StreetXO

David Muñoz há muito que dispensa apresentações, desde que em 2010 rasgou com a cena gastronómica de Madrid ao ganhar a primeira estrela para o seu DiverXO  (é hoje o único 3 estrelas da cidade), numa fusão criativa, radical e até teatral da cozinha mediterrânica com sabores e ingredientes asiáticos.

Mas desengane-se quem pensa que Muñoz é um fruto da vanguardista escola Basca, que tantos nomes tem trazido à ribalta da gastronomia mundial, Muñoz começou a sua carreira um pouco pelo bom gosto dos pais que com alguma frequência o levavam, ainda jovem, ao clássico madrileno Viridiana, do chef Abraham García, onde acabou por trabalhar quando acabou os seus estudos, e ao qual continua ainda hoje a prestar homenagem nos seus menus, mais tarde rumou a Londres onde acabou por trabalhar vários anos em restaurantes asiáticos como o Nobu e o Hakkasan.

Uma formação que lhe serviu de base para as suas criações, onde técnica e genialidade se combinam para criar uma experiência de choques, de sabores e até de sentimentos, em que muitos casos se ama e noutros tantos se odeia.

Dito isto, a sua “chegada” a Londres para a abertura de um StreetXO – espaço mais informal e inspirado na Street Food asiática  que abrira em Madrid em 2012, e cujo sucesso o tem tornado num dos mais concorridos da cidade – fez correr muita tinta entre jornais, críticos e opinion makers.

Pelo que não poderiamos deixar de o visitar durante a nossa última passagem por Londres. Localizado no elitista bairro de Mayfair a decoração ficou a cargo do visionário Lázaro Ros-Violàn, cujos trabalhos não deixam ninguém indiferente. Este StreetXO não é excepção, com um ambiente que recria o imaginário louco de Muñoz combinado com um pouco de club de strip e filme de ficção ciêntifica ao estilo de Blade Runner.

É impossível ficar-lhe indiferente!

Já instalados, somos pronta e alegramente acompanhados ao longo de todo o menu, enquanto a equipa aproveita para nos demonstar o seu conhecimento sobre a carta e tenta fazer sugestões que vão ao encontro dos nossos gostos. A carta divide-se em pequenos momentos de finger food e pratos para partilhar ao bom jeito da comida de rua.

A refeição começou com a chegada dos cocktails, ou não estivessemos em Londres e a Liquid Kitchen (que é como quem diz bar) do StreetXO não fosse também um ponto de arrojo e criatividade, que bem combina com a carta.

Excelentes Dry, sweet and Sour!!! e o Pineapple slow roasted over coals, que combinava vodka, arandos, balsámico e uns doces de petazetas no caso do primeiro e rum velho com abacaxi, lima e infusão de tonka no segundo.

Dry, sweet and Sour!!!

Pequinese Dumpling… 
O primeiro prato é também o primeiro choque visual causado à mesa, numa combinação arrojada de de uma gyoza, com orelha de porco crocante (que infelizmente não estava crocante em todas as peças), ali-oli com yuzu , pickles e um molho hoisin de morango. Sabores bem conseguidos, com a doçura e notas salgadas e frutadas do hoisin a realçarem-se numa combinação que teria tudo para dar errado, mas não deu. Falha numa das peças onde a orelha não estava com a crocância que se pretendia.

Steamed Club Sandwich
Um pequeno bao, cozido a vapor e recheado com leitão, ricotta, maionese de chili e ovo de codorniz. Prato picante q.b., guloso e untuoso na boca, com o ricotta a trazer frescura ao conjunto ainda que pudesse estar presente em menor quantidade. Muito bom!

Korean Lasagne XO Style
Um dos pratos mais saborosos e confortáveis do almoço, com uma ótima combinação de texturas e sabores, fruto da ligação da carne galega com o molho picante coreano gochujang, e a riqueza do bechamel. Nota alta para o contraste da massa crocante que é desfeita sobre o prato depois de servida.

Prawn5
Havendo Carabineiro na mesa estou quase feliz, quando provo e o rei dos camarões está bem tratado aí sim é momento de festa! E foi o caso neste prato de apresentação irrepreensível e conjugação de elementos. Carabineiro no ponto, doçura certa e cabeça húmida e cheia de sabor. A conjugar com várias texturas de camarão, desde o dim sum, a lascas de camarão seco e um fino e crocante cracker de camarões baby. Molho rico e saboroso, com ali-oli de açafrão, amêndoa e edamame. Um grande prato!

Por esta altura passamos ao segundo round de bebidas e decidimos optar pelas combinações mais arrojadas da carta, um Tokyo-Jerez Montril’s, numa arrojada combinação de notas fumadas do chá de lapsang, com shiso, miso, yuzu, sake e sherry acompanhado de um camarão no carvão e a sua cabeça. Outro foi the Yellow Curry,  numa homenagem de sabores e culturas que rapidamente viajou entre a Europa, Bangkok e a Índia.

A equipa por trás da “liquid cuisine”

 Yellow Curry

 Atum, Manga verde, e molhos satay, coco, tamarindo e bergamota
Aquilo que parece carne é na realidade um corte de atum junto ao pescoço, cozinhado na robata e servido com contrastes interessantes de frescura e textura dados pela manga verde e pelos molhos que nos levam numa viagem rápida às espetadas asiáticas. Irrepreensível!

“La Pedroche” croquettes…
Neste prato, a Espanha foi conhecer o Japão, com os croquetes a fazerem a parte do shari (arroz de sushi) para a montagem de um niguiri de toro (barriga de atum). Croquetes crocantes e recheados de kimchi, leite de cabra e elevado pelas notas fumadas do chá preto LapSang SouChong. Nota alta para a qualidade do atum e a conjugação, não fosse a fritura não estar perfeita e seria um grande, grande final!

Para terminar, não existem propriamente sobremesas na carta, mas foi sugerido uma espécie de sobremesa/cocktail, servida no famoso copo da pantera cor de rosa (que faz parte do universo DiverXO), à base de chocolate branco, guava, ruibarbo, morango e caril com um toque de petazetas para alegrar mais ainda o final da refeição.

Sobremesa

O serviço decorreu de forma animada, com os pratos a sucederem-se a bom ritmo, com a equipa a demonstrar conhecimento sobre a carta, boas sugestões e um ambiente geral de satisfação, que enquanto clientes nos satifaz e nos motiva ainda mais a entrar dentro do espírito do restaurante, sim é preciso entrar de alma aberta e receptivo ao choque.

Manuel Villalba é o braço direito de Muñoz neste arrojado projecto na capital inglesa

Considerações Finais
David Muñoz é um génio criativo, amado por muitos e odiado por outros tantos, mas a verdade é que por trás de toda aquela imagem de enfant terrible, Muñoz é na realidade um cozinheiro, na sua mais pura essência, é mais fácil vê-lo nos fogões dos seus restaurantes (inclusive neste StreetXO de Londres) do que numa revista, programa de Tv ou mesmo na sala a dar asas ao estatuto de celebridade.

A sua “demência” no bom sentido da palavra é demonstrada no ambiente teatral que cria em torno de uma refeição e nas conjugações imprevisíveis de ingredientes e sabores que utiliza nos seus pratos, pode não se gostar e haverá sempre pratos que resultem melhor do que outros, é certo, mas a verdade é que é impossível ficar indiferente a esta cozinha.

Um dos espaços do momento em Londres!

StreetXO Londres
Preço médio: £70 por pessoa sem vinho nem taxas
15 Old Burlington Street, Mayfair – Londres
+44 020 3096 7555
reservations@streetxo.co.uk

English Version

Fotos: Flavors & Senses

Nota
Estivemos no StreetXO a convite sendo que isso em nada altera o nosso trabalho cuja opinião e o texto são da exclusiva responsabilidade do seu autor.

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