Quando me vem à cabeça a ideia de restaurante Pop-Up os pensamentos nem sempre são os melhores, cozinheiros inexperientes saídos de um qualquer reality show, pratos com pouco conteúdo, quer em substância quer em sabor, condições de trabalho pouco adequadas, entre muitas outras que me levam a olhar com alguma relutância para este tipo de projecto.
No entanto, em 2014, os primos Ollie, Will, Ed e Anna Templeton decidiram revolucinar esta prática, abrindo o Carousel, um restaurante com todas as suas capacidades, que promove em jeito de curadoria a permanência de diferentes chefs ao jantar a cada 15 dias. É como encontrar um restaurante novo a cada duas semanas, só que em vez do jovem inexperiente que decidiu mudar de vida depois de um programa do Gordon Ramsay, temos jovens chefs que estão no topo da sua forma, alguns deles com restaurantes em diferentes partes do mundo, outros prestes a iniciarem novos projectos em Londres, que acabam por usar o espaço em jeito de teste e apresentação, chefs como o português Leonardo Pereira, ou Elizabeth Allen que se preparava para abrir um novo restaurante depois de conquistar uma estrela michelin para o Pidgin.
Com a sua localização a dois passos do nosso hotel – Hyatt Regency London – The Churchill (ver) – e ainda que não tenhamos conseguido uma reserva para o jantar, fomos conhecer o menu de almoço desenhado por Ollie Templeton, que se baseia bem na sazonalidade dos produtos e na oferta do dia.
A sala remete-nos para um estilo rústico e industrial, bem contemporâneo, com a madeira a trazer conforto, e as longas mesas partilhadas a indicarem que aqui o objectivo não é só criar uma refeição, como também a partir dela criar uma tertúlia, com confraternização e discussão entre os comensais.
Para começar somos brindados com um dos meus momentos preferidos , o Pão (em Londres, pelo menos, já que em Portugal o bom pão escasseia), e que belo Sourdought este, da famosa padaria Bread Bread, servido depois de uma segunda cocção já no restaurante, boa a textura, o aroma e o sabor. Bem que podia ficar por aqui sem que me fosse servido mais nada além do pão, provando que afinal de contas sou um homem fácil de satisfazer, basta o melhor, como diria Sir Wiston Churchill!
O delicioso pão da Bread Bread, servido com azeite e flor de sal
Salada de Agrião, maçã, nozes e vinagrete de manteiga queimada
Começamos com uma salada leve, com todos os elementos na proporção correcta e bem conjugados. O detalhe da cebola caramelizada e o sabor de frutos secos da manteiga elevou o prato, bastante além de uma simples salada. Belo início!
Mexilhões, alcachofra e torrada
O pão surge mais uma vez, desta feita no prato, o que é sempre um bom prenúncio. Uma arrojada combinação de sabores e texturas, do mar e da terra, com o mexilhão e a alcachofra, que tinha tudo para ser memorável, não fosse a acidez do escabeche demasiado elevada, o que acabou por dificultar um pouco o saborear de todo o jogo presente no prato.
Cavatelli, choco e gremolata
Com este prato ganhei o dia, a cozinha de conforto das velhas Nonas italianas a ser aqui muito bem representado. Massa bem al dente e de bom sabor, delicado e saboroso molho à base da tinta de choco, e o molusco na medida e textura certa. A gremolata trouxe uma interessante frescura. Um grande prato, aqui e em qualquer parte do mundo!
Presa de porco Ibérico, salsa e pickles de chalotas
Digamos que sou daqueles que gosta de receber o porco rosado, que é como quem diz mal passado, um crime, um insulto e um atentado à saúde pública, dirão alguns, mas a realidade é que as coisas já não são bem assim. Isto para dizer que até para mim o centro desta presa estava demasiado mal passado. Carne delicada e saborosa que se faz valer por si só e que sofreu um pouco por esse ponto (quiçá por Londres gostem dela ainda mais mal passada do que eu). Interessante ainda o contraste com o pickle e a frescura da salsa, e claro para o pão que agradavelmente substitui qualquer acompanhamento que carne a pudesse levar.
Tarte de toranja
Recheio delicado fresco e untuoso, com uma cremosidade e textura aveludada digna de destaque, a contrastar com a capa fina de açúcar queimado e a base. Um final simples, saboroso e sem um grande pecado!
A acompanhar a refeição esteve, e muito bem, um alvarinho, que é como quem diz Albariño Zarate de 2015, das Rias Baixas, cuja acidez e mineralidade são dignas de destaque. Um alvarinho de grande elegância e frescura, que acompanhou muito bem a simplicidade e frescura da refeição.
Nota ainda para a carta, assente maioritariamente em pequenos produtores internacionais com Vitor Claro e os seus elegantes vinhos Alentejanos a serem o representante Português.
O serviço, e tal como seria de esperar deste tipo de espaço, decorreu sem formalidadades, atento e descontraído. Devo dizer que a simpática funcionária me conquistou facilmente pela forma pronta com que me repunha o cesto de pão!
Considerações Finais
O projecto Carousel, nasceu para trazer um pouco do teatro e do cinema até à restauração londrina, criando um conceito em que é possível, de 15 em 15 dias, reservar no site um bilhete para um jantar diferente, com equipas diferentes, cozinhas e sabores bem distintos, mas sempre com aquela mesma sala acolhedora e familiar. É um projecto de nicho, é certo, mas um dos que vale a pena acompanhar, louvar e provar a cada nova residência, onde é certo que a cada nova visita de um chef se está de certo modo a revolucionar um pouco o mundo da gastronomia. Ao almoço, a carta traz a simplicidade e o respeito por bons produtos, aliada a preços correctos sem os habituais excessos da zona em que se insere. Um valor seguro, para um almoço confortável e despretensioso!
A nós resta-nos voltar durante uma das residências, quiçá dum dos jovens talentos portugueses!
Carousel
Preço médio:
Almoço – £20 sem vinho nem taxas
Jantar – com bilhete £40 por pessoa sem vinho nem taxas
71 Blandford Street, Marylebone – Londres
+44 020 7487 5564
info@carousel-london.com
Fotos: Flavors & Senses