Terminamos as nossas viagens do ano de 2018 pelo continente Africano.
Foi a primeira vez por este continente e uma agradável surpresa, principalmente para mim que não levava na mala nenhuma expectativa.
Confesso que queria tanto ter feito Camboja e Vietname que quando o João me conseguiu convencer com a ideia da África do Sul decidi nem me preocupar com esta viagem! Mas hoje posso dizer-vos que foi uma das melhores experiências da minha vida!
Voamos do Porto para Madrid e depois daqui para Joanesburgo, onde apanhamos mais um avião para a Cidade do Cabo. Isso tornou-se aliciante para mim pois era apenas uma viagem de longo curso (quando vamos para a Ásia são duas viagens de longo curso) e mais duas pequenas e ainda por cima a viagem de Madrid para Joanesburgo (que são 10h) foi durante a noite. O que dá sempre para descansar mais!
Voamos com a Ibéria, companhia que nunca tínhamos experimentado mas que ficamos completamente fãs. Mas sobre essa experiência o João fala-vos melhor aqui!
Fomos conhecer um bocadinho de África do Sul. E começamos pela Cidade do Cabo, a Capital Legislativa do país e a mais populacional a seguir a Joanesburgo.
Famosa pelo seu Porto Natural, a Cidade do Cabo tem significado histórico para nós portugueses por ter sido aqui, no Cabo da Boa Esperança, que os navegadores portugueses provaram mais uma vez o seu valor na época dos Descobrimentos, mas quanto a este assunto, lá chegaremos!
Breve resumo da História
Os vestígios mais antigos de algum tipo de ocupação humana datam de 10000 a. C. E estão presentes nas Grutas de Peers.
Mas, a primeira vez que a cidade efetivamente deu que falar foi na altura dos Descobrimentos, e graças a quem? Ao navegador Português Bartolomeu Dias!
Tantos tentavam transpor o Cabo das Tormentas – nome dado por Bartolomeu após duras tempestades que sofreram para o dobrar – mas foi este navegador português que alcançou esse feito e abriu caminho para as futuras navegações para a Índia, criando a importante ligação entre o Oceano Atlântico e Indico.
Cabo esse que João II de Portugal apelidou de Cabo da Boa Esperança! E tudo isto aconteceu em 1488.
Mas a cidade começou a crescer somente em 1652 com a Companhia Holandesa das Índias Orientais pelas mãos de Jan Van Riebeeck.
Estabelecendo-se aqui um importante ponto de comércio que servia de apoio às viagens das Índias orientais da Holanda.
Com o trabalho escravo da Indonésia e de Madagáscar a cidade prosperou, mas na altura da Revolução Francesa, Holanda estava demasiado ocupada e perdeu o controlo da Cidade, dando origem a que os Britânicos tomassem conta desta e lá se estabelecessem a partir de 1795.
A descoberta de diamantes já no século XIX aumentou o fluxo de imigração a África do Sul, e a Cidade do Cabo foi prosperando.
África do Sul e consequentemente a Cidade do Cabo passaram por momentos de grande tensão na história, nomeadamente de 1948 a 1990 com o Apartheid (como é possível pensarmos que há bem poucos anos aqui ainda existia segregação racial?E já terá terminado totalmente?), mas foi a partir de 1994 que as eleições passaram a ser livres.
O país passa por um momento incrível a nível económico, quer na área do turismo quer no ramo imobiliário, mas é bem presente a disparidade e o fosso gigantesco que separam a pobreza da riqueza, uma espécie de cidade encantada envolta numa autêntica favela onde milhões de pessoas tentam construir as suas vidas.
Este foi o primeiro impacto mal chegamos à Cidade do Cabo. A periferia está imersa em pobreza mas quando se chega à cidade propriamente dita a riqueza é uma constante.
Mansões dignas de Bervelly Hills, automóveis dignos de estrelas de cinema, e a beleza natural envolvente quase que nos fazem esquecer que acabamos de passar por milhões de pessoas que vivem num limite de pobreza assustador.
Se devem ir à Cidade do Cabo apesar deste choque, SIM… a minha resposta será sempre essa, quando estamos num país que provoca em nós um sentimento de angústia, revolta, mas ao mesmo tempo de deslumbramento.
A Cidade Do Cabo tem a vista sobre o oceano mais sublime que já tive o prazer de experienciar, conheci pessoas incríveis que me trarão memórias de felicidade para sempre, e acima de tudo, consegui dar ainda mais valor ao que tenho, às oportunidades que a vida me deu e que eu aproveitei sem hesitar, e ver o mundo e o ser humano com um olhar ainda mais atento.
Mas então, o que não perder nesta Cidade???
Selecionei 10 coisas que para mim são imperdíveis!
Ficar no hotel The Twelve Apostles
O staff mais simpático que já vi, e um ambiente de tal forma sereno que não apetece sair de lá! Contrastando apenas com a loucura do Leopard Bar que é o ponto de encontro dos locais! Por isso, se não tiverem oportunidade de se hospedar no 12 Apostles, por favor não percam uma ida ao Leopard Bar ao fim da tarde para beberem um Gin e observarem o por do sol! Eles têm um menu de Gins incrível e a um preço bem em conta para um bar de hotel de luxo! Aliás, toda a lista tem preços bastante justos. Outro ex libris do hotel é o seu Spa. Dos melhores circuitos de água onde já estive. Mas sobre toda esta experiência no Hotel 12 Apostles falo-vos mais aqui!
Passear por V&A Waterfront e sentir a vibração da cidade!
Há animação por todo o lado, os diferentes grupos musicais fazem fila para poder mostrar os seus dotes artísticos e entreter quem por lá passa. Este é o coração da cidade, por aqui passam milhões por ano, turistas e locais. Se a intenção é visitar um museu, passear, fazer compras, sentir a agitação e as pessoas de Cape Town, este é um local imperdível! Honestamente acho que quem passa pela Cidade do Cabo deve passar pelo menos umas horinhas por aqui.
Não é de longe o mais interessante da cidade mas merece uma visita! Daqui tem acesso a diferentes locais, como por exemplo Robben Island – onde Nelson Mandela foi mantido durante anos; Cape Wheel – a roda Gigante, que eu, como sempre, dispenso!; a Nobel Square – com estátuas dos quatro premiados ao Nobel da Paz; o Two Oceans Aquarium – para quem viaja com crianças é uma excelente opção; o SpringBok Experience para os amantes do filme Invictus; a Clock Tower – no seu estilo vitoriano, que estava fechada para obras aquando da nossa viagem; o Diamond Museum – como não poderia deixar de ser numa cidade tão rica em diamantes!Se o intuito, como foi o nosso caso, não é visitar nada em concreto, aconselho-vos a desfrutar apenas da animação constante desta região! A sentir a vida que fervilha por aqui, e a observar a Table Mountain com a sua imponência! No entanto, optamos por entrar em dois locais quando visitamos a Waterfront! Curiosamente no mesmo edifício! Mas dada a excelente experiência eles constituem mais dois pontos de importância na Cidade do Cabo! E são eles o Zeitz Mooca Museum e o Silo Hotel.
Zeitz Mooca Museum
O maior Museu do mundo dedicado à Arte Contemporânea produzida por artistas africanos, aberto desde 2017 no edifício do Hotel Silo, no Silo’s District. Tenho que vos confessar que não me apetecia perder tempo a visitar um museu nesta viagem, ainda resisti à primeira tentativa do João, mas como na manhã em que era suposto irmos à Table Mountain foi impossível por causa do vento, lá decidimos ir ao Zeitz Mocca Museum! E ainda bem pois amei! A estrutura original do edifício tem uma forte herança industrial que se coaduna na perfeição com a arte contemporânea apresentada no seu interior. As obras, o ambiente, e o edifício em si transformam este museu num dos meus preferidos de todos os que já visitei. Imperdível!
Preço: 190ZAR (13€ aproximadamente)
https://zeitzmocaa.museum
Já que estão por Silo’s District e neste edifício aproveitem para – Tomar um cocktail no Silo Hotel!
Se tiverem sorte ainda arranjam mesa no Rooftop (só acessível a hóspedes, mas quando há mesas eles facilitam o acesso) senão fiquem-se pelo 6 andar pois o bar é igualmente incrível.
Uma das experiências mais incríveis da Cidade do Cabo são as vistas deslumbrantes e megalómanas que se têm da Table Mountain.
Este é sim, sem a mais pequena dúvida, um local a não perder! Mas, boa sorte, porque tendo em conta o vento que se faz sentir na cidade, às vezes é impossível subi-la, por questões de segurança, obviamente. Tentamos duas vezes, mas sem sucesso, mas à terceira foi de vez! Fizemo-lo de funicular mas para os mais atléticos é possível fazerem-no a pé pelos trilhos preparados para isso. Honestamente, sou uma pessoa de momentos, e o momento em que chegamos ao topo da Table Mountain foi de longe dos melhores que já tive numa viagem. É mágico, é indescritível e por muito que tentem compreender olhando para as fotografias nunca vão conseguir, por isso, confiem em mim – Este tem que ser um dos vossos itens numa wishlist! O nome deve-se ao formato da montanha que se assemelha a uma mesa, que se desenvolve num autêntico planalto de 3km! Estende-se desde o chamado Devil’s Peak (melhor local para ver o pôr do sol, aliás!) a leste até à Lion’s Head a oeste, compondo o anfiteatro natural! A primeira ascensão documentada aconteceu em 1503 por António Saldanha (navegador português). Que foi o responsável pelo atual nome, por observar um terreno extenso e plano, e quem colocou uma cruz que ainda hoje é visível nas imediações da Lion’s Head! Se fizerem a subida e descida de funicular os bilhetes podem ser comprados diretamente lá, e não são caros, apenas têm que esperar um pouco nas filas!
Visitar Cape Point e o Cabo da Boa Esperança.
Se podem não fazê-lo podem, mas se são portugueses têm mesmo que o fazer. E, assim, fazer jus a Bartolomeu Dias que dobrou este último numa altura em que mais ninguém conseguia. Façam uma viagem de cerca de 1h e pouco de carro desde o centro de Cape Town até Cape Point (nós alugamos carro em Cape Town pois assim podíamos fazer este tipo de viagens e ir apreciando tudo o que queríamos com o nosso tempo – se não quiserem alugar carro e conduzir podem contratar motorista privado, ou ir nos passeios realizados por agências privadas). Conduzimos pela inconfundível Chapman’s Peak Drive e paramos em cada local da estrada cujas vistas nos deslumbravam (há vários trajetos para que possam parar em segurança).
Chegamos então ao Table Mountain National Park. A entrada é paga (303ZAR – cerca de 19€ ) e quando entramos é-nos dado um mapa bastante simples para orientação dos dois cabos.
Quais as variadíssimas razões que justificam a visita a Cape Point e ao Cabo da Boa Esperança? Se são portugueses já falamos sobre a questão histórica (de orgulho!), mas há muitas mais! É a ponta mais a sudoeste do continente africano. E a natureza é provavelmente a principal razão de o visitarem. É um parque natural com kms e kms duma beleza única, onde podem avistar uma diversidade imensa de animais (cuidado com os Babuínos!) e onde irão respirar o ar mais puro e fresco das vossas vidas (relacionado com uma corrente de ar que vem da Antártida).
Uma vez dentro do parque podem seguir sempre em frente pelos caminhos e vão diretos a Cape Point com o seu antigo Farol. Daqui têm uma vista incrível sobre todo o Cabo da Boa Esperança. Podem subir até ao farol de funicular ou pelas íngremes escadas, que vos aconselho pois podem ir apreciando as vistas! Do Farol podem tornar a pegar no carro e seguem as placas que vos levam ao Cabo da Boa Esperança, ou mal terminam as escadas do farol encontram um caminho pedonal para a Boa Esperança. Ao longo do parque podem também encontrar dois monumentos de homenagem aos dois navegadores portugueses Bartolomeu Dias e a Vasco da Gama.
Atenção ao vento que se faz sentir que é sempre imenso! E aos horários do parque – que variam de 6h/7h-17h/18h de acordo com o por e nascer do sol durante todo o ano.
Depois dos Cabos optem por parar na pequena cidade portuária Simons Town e apreciar as casas com aquele estilo totalmente colonial, que nos fazem quase viajar no tempo.
Aqui, aproveitem também para provar o fish & chips típico desta zona. Tivemos um almoço interessante no Bertha’s, o mais emblemático espaço da cidade, com uma esplanada bem posicionada sobre o porto.
Depois do almoço nada como parar para ver a colónia de pinguins em Boulders Beach que é algo que certamente não imaginariam ver na vida! São centenas e centenas de pinguins africanos que se estebeceram nesta praia já desde 1982.
Entrando na colónia, e depois de comprarem o bilhete (76ZAR – 5€), podem seguir em frente ou pela direita, sigam pela direita que essa zona tem muito menos pessoas e é mais fácil ver os pinguins. Não, não podem tocar, até porque não têm acesso à praia, vão vê-los dos estrados de madeira que estão devidamente acima da areia.
Uma forma de terem um contacto mais direto com os pinguins é na praia ao lado, na Foxy Beach, mas cuidado que os pinguins não são assim tão amistosos quanto parecem! Esta zona é também ótima para fazer praia pois devido à forma da sua estrutura granítica a praia fica mais protegida do vento.
A pior altura para visitarem é Janeiro pois os pinguins encontram-se mais no mar à procura de alimento.
Um dos ex libris de África do Sul são os vinhos!
Por isso, uma vez em Cape Town torna-se imperativo visitarem regiões e quintas vínicas. Muito nos falaram de Stellenboch, que muito queríamos ir mas que foi impossível de conjugar com os nossos timings. E por isso optamos por visitar a quinta Bouchard Finlayson pertencente à família Red Carnation e fomos acompanhados pelo carismático Frank Woodvine, que nos deu uma aula de biologia incrível ao longo de toda a quinta.
Almoçamos com o Enólogo Peter Finlayson que foi um anfitrião maravilhoso, durante todo o almoço e prova de vinhos. Esta quinta é das mais importantes de África do Sul, e os seus vinhos dos mais galardoados, a região fica a apenas 1h30 de carro do centro da cidade mas vale cada km só para desfrutar dum ambiente familiar e genuíno e provar cada um dos vinhos.
Fizemos esta visita organizada pelo hotel the 12apostles, uma vez que os proprietários do hotel são os mesmos da quinta. (ver)
Tivemos ainda tempo para Visitar mais uma quinta vínica, a famosa Klein Konstantia, uma propriedade lindíssima que nos foi indicada por um querido amigo produtor de vinho que já lá tinha estagiado. Uma propriedade enorme e cuidada até ao último detalhe, numa das áreas mais bonitas do Cabo. Constantia tem mesmo uma beleza inigualável, e os vinhos ali produzidos são também eles únicos e memoráveis.
Mas se tiverem oportunidade façam o circuito do vinho pela região de Stellenboch.
Alem dos vinhos, a gastronomia é algo a Experimentar em Cape Town. Apesar do nos ter parecido bastante internacionalizada houve alguns restaurantes que não posso deixar de mencionar como “a não perder” em Cape Town, como é o caso do Aubergine e do Salsify. Mas sobre estas experiências o João fala-vos ao pormenor noutros artigos (como aqui e aqui)!
Certamente haverá muito mais a visitar nesta cidade tão culturalmente rica e com um povo tão meigo, por isso, daqui a uns anos será imperativo o nosso regresso!
Até breve Cape Town!