Quem me conhece ou segue o blog sabe bem do meu fascínio por “bolhas” e pelos encantos e versatilidade que um bom champagne pode trazer em cada momento!
Poderia enumerar uma série de casas e vinhos com os quais vou flirtando de quando em vez, mas a Pol Roger é sempre o meu porto de abrigo, pela sua riqueza e complexidade brilhantemente combinadas com frescura e elegância.
Pelo que, quando decidimos visitar a região de Champagne, havia sempre um nome a soar mais alto no meu pensamento, uma visita à Pol Roger! Problema? A Pol Roger é uma das poucas casas que continua a não se preocupar com visitas ou investimentos em marketing, assim uma visita apenas poderia ser feita por convite. Uma pedra no caminho, mas como quem tem amigos nunca está sozinho, eis que estamos de visita marcada para um longo dia nesta inesquecível casa.
História
A Pol Roger começou como muitas outras empresas de vinho, uma pequena empresa que comercializava e produzia vinhos para grandes casas como a Moët & Chandon ou Perrier Jouët, até que o seu fundador – Pol Roger – após se estabelecer em Épernay decidiu comprar as suas primeiras vinhas e começar a engarrafar o seu próprio vinho.
Desde sempre a Pol Roger ficou conhecida por ser a mais britânica das casas de Champagne, por um lado por ter sido uma das primeiras casas a apostar nesse mercado e a trabalhar os vinhos de perfil Brut – o preferido dos ingleses – e depois pela relação duradoura que estabeleceram com Sir Winston Churchill, o célebre primeiro ministro inglês que sempre assumiu preferir Champagne a todas as bebidas e Pol Roger perante todas as marcas.
“Eu não poderia viver sem champanhe. Na vitória eu mereço-o. Na derrota preciso dele!”
Winston Churchill
A amizade de Churchill e Odette Pol-Roger tornou-se efectivamente no grande marco comercial e institucional da empresa, da homenagem feita a Churchill após a sua morte – todas as garrafas exportadas para o Reino Unido, passaram a exibir até aos anos 90 uma faixa preta – ao lançamento do seu vinho mais exclusivo em 1984 o Cuvée Sir Winston Churchill, feito apenas em anos de altíssima qualidade e cujo blend permanece um segredo de família, sempre com o ideal de que cada edição deste vinho iria agradar ao mítico primeiro-ministro inglês.
A Propriedade
É bem no centro da Avenue de Champagne em Épernay que toda a acção da Pol Roger tem lugar, da lindíssima mansão de influência inglesa (pois claro!) aos armazéns, e aos mais de 7,5km de túneis que se estendem ao longo da famosa avenida onde repousam os milhões de garrafas da empresa nas suas diversas fases de produção.
A guiar-nos esteve o sempre exímio e elucidativo Pierre-Samuel Reyne (responsável pelo exportação da empresa), das notas das primeiras encomendas de Pol Roger em nome de Winston Churchill em 1908, às fotos de família, passando pelas garrafas recuperadas do histórico desabamento das caves da empresa que quase a levou à falência em 19o0. Tudo respira história combinada com um certo Noblesse oblige!
Mas conhecer o mundo da produção de champagne não é visitar um palácio, os seus elegantes escritórios ou os seus documentos históricos. Conhecer a verdadeira essência da produção de uma casa de Champagne está numa visita aos seus impressionantes túneis, onde os célebres remueurs, continuam nos dias de hoje a executar a remuage manual em todas as garrafas produzidas pela empresa – um caso único entre as grandes casas, que muito prova sobre a postura e a filosofia desta empresa.
Filosofia
Pol Roger é sinónimo de elegância e muita subtileza, é assim nos seus vinhos, e é assim na sua relação com o mundo e os seus clientes. Não existe uma relação entre a empresa e os media, não existe um investimento desmesurado em marketing, nem uma ligação a festas ou celebridades – com excepção da família real britânica que normalmente não abdica de Pol Roger nas suas celebrações.
Um estilo definido na origem da empresa e que os seus descendentes respeitam como ninguém, mesmo com a chegada de Dominique Petit o atual chef de caves em 1999, com mais de 20 anos de experiência na Krug, o estilo e a ausência de madeira mantiveram-se inalteráveis, com uma aposta cada vez maior nas melhorias na produção, na exaltação da fruta e claro na harmoniosa elegância que caracterizam os vinhos da Pol Roger.
Os vinhos
Chegados à histórica Sala de provas, onde dias antes a família se tinha reunido para decidir os pontos finais de mais um blend, aguardava por nós um pedaço da história da empresa, os vinhos, e uma bandeira de Portugal, numa clara demonstração de respeito e hospitalidade para com as visitas!
Pol Roger cuvée Brut Réserve
Um blend de 3 partes iguais de Pinot noir, pinot meunier e chardonnay de certa de 30 crus diferentes, combinados com 25% de vinhos reservados. Estagia em garrafa durante certa de 4 anos antes de ser colocado no mercado, resultando num dos vinhos mais interessantes do seu segmento. Um nariz atrativo, com fruta, flores e um delicado toque de brioche, que nos indica de imediato o que estamos a provar. Na boca, uma combinação de frutas compotadas, notas de mel e o longo mas subtil toque de casca de laranja para elevar a prova. Um Champagne de “entrada” que nunca, mas nunca, compromete!
Pol Roger cuvée Pure Extra Brut
Um blend semelhante ao Brut Réserve, mas aqui sem dosagem, num exercício de mostrar o estilo da casa num vinho próximo do seu estado natural. Ao nariz chega-nos uma delicada combinação de citrinos e fermento aprimorada por uma certa complexidade de aromas florais. Na boca a sensação é arrepiante, com a grande acidez a ser perfeitamente conjugada com a estrutura do vinho. Um vinho que não apetece parar de beber, especialmente se a companhia for a certa – Devia ser obrigatório em todas as marisqueiras!
Pol Roger vintage 2012 Blanc de Blancs
Os vintage da Pol Roger são os vinhos que deram nome à casa, especialmente pela sua personalidade e longevidade. O Blanc de Blancs é, como o próprio nome indica, feito exclusivamente com Chardonnay, neste caso apenas com Grands Crus da região Côte des Blancs. Um vinho de baixa produção, que estagiou 7 anos antes de chegar ao mercado. O nariz revela um pouco de frutos secos muito bem combinado com pêssego e um lado cítrico e exótico muito interessante. Na boca o vinho é bem direto, mostrando um lado complexo com uma vibrante juventude, com sabor a citrinos e uma acidez inesquecível. Elegância será certamente o nome do meio deste vinho!
Pol Roger vintage 2009
O Vintage 2009 foi criado com o habitual blend dos vintage da casa, com 60% de Pinot Noir e 40% de Chardonnay, e uvas provenientes de Grand Cru e Premiers Cru da Montagne de Reims e Côte des Blancs. Este vinho estagiou por 8 anos nas caves da Avenue de Champagne antes de nos trazer à vista uma bolha bem viva e persistente e ao nariz a riqueza e a elegância de fruta branca bem conjugada com algumas notas de padaria. Um vinho delicado e elegante na boca – sim mais uma vez a palavra elegante – com a mousse, a acidez e a estrutura a preencher a boca como poucos. Um grande vinho, e uma das melhores relações qualidade preço no mundo dos champagne vintage.
Pol Roger vintage 2009 Rosé
O Vintage 2009 é criado num processo um pouco diferente de um clássico rosé. Ao vinho base do vintage clássico junta-se cerca de 15% de vinho tinto Pinot Noir antes da segunda fermentação, já em garrafa. O rosa salmonado da sua cor, cativa facilmente o interesse, e o seu aroma de frutos vermelhos, brioche e algum especiado dizem-nos que – sim! estamos perante um grande vinho. Na boca a frescura, estrutura e a complexidade de sabores levam o título…
Pol Roger Sir Winston Churchill 2008
O cúvee prestige da Pol Roger, criado em homenagem ao seu mais célebre embaixador. Um vinho preparado apenas com uvas de Grand Cru, de vinhas que já produziam na época de Churchill. O blend exacto, apesar de dominado pelo Pinot Noir, é um dos grandes segredos da família, que apenas produz este vinho quando conseguem encontrar aquilo que Churchill tanto apreciava nestes vinhos, robustez, volume e harmonia. Os aromas do vinho vão mudando consoante a temperatura, começando por mostrar fruta branca e padaria, passando depois a frutos secos e alguma laranja. Na boca o seu equilíbrio entre robuztez e elegância conquista rapidamente o provador, com citrinos e pastelaria a serem os sabores de maior evidência. Se 2008 é um grande ano para Champagne, o cúvee Winston Churchill será certamente um dos seus mais surpreendentes exemplares! Um grande vinho!
Depois de uma fantástica prova, foi tempo de uma curta viagem até ao centro de Épernay para um almoço onde reinou, como é óbvio, a clássica cozinha francesa, e onde pusemos de lado as provas para passar efectivamente à degustação dos vintages da Pol Roger.
Por fim e antes de uma viagem a outro pequeno paraíso de champagne fomos visitar algumas vinhas da Pol Roger bem na encosta de Épernay, para encontrarmos um cenário único e inesquecível!
Obrigado Pol Roger e obrigado Pierre por este dia perfeito!
Não são possíveis visitas, mas os vinhos estão em todas as grandes lojas do mundo!
polroger@polroger.fr