The Ritz


O Ritz de Londres não é apenas um hotel ou um restaurante; é uma verdadeira instituição! Desde a sua inauguração em 1906 por César Ritz e Auguste Escoffier, o Ritz tem sido o anfitrião de inúmeros convidados ilustres, incluindo membros da realeza, políticos e socialites. Tendo inclusivamente sido o cenário de várias reuniões decisivas que moldaram o curso da Segunda Guerra Mundial

Tal como tudo o que possui uma longa história e identidade, o hotel passou por diversas fases: da morte de César Ritz à Grande Depressão, dos diferentes proprietários e administradores às modas de cada década. No entanto, sempre soube reinventar-se, mantendo até hoje aquela aura majestosa que deu origem ao adjetivo mais extravagante do mundo – “ritzy”.

Trolley de Champagne para começar o jantar
Trolley de Champagne para começar o jantar

Entrar no Ritz é como fazer uma viagem no tempo, transportando-nos para uma era de luxo e elegância que raramente se encontra nos dias de hoje. O ambiente é sumptuoso, repleto de bronze e mármore, com candelabros brilhantes, espelhos dourados e tecidos de alta qualidade. Uma sala grandiosa, onde as mesas são meticulosamente preparadas e o serviço se revela digno da realeza desde a recepção.

Sentados, somos imediatamente envolvidos por uma atmosfera de requinte, pontuada por um toque de tradição britânica, onde até um pianista se faz presente para enriquecer a experiência sensorial.

Começamos com um trolley de champagne que chega à mesa com prontidão e elegância – ou não estivessemos no Ritz! Seguem-se rapidamente uma série de canapés, que são já uma marca registrada do restaurante e do chef John Williams MBE.

Mousse de queijo Ragstone e Parfait de Foie Gras

Mousse de Queijo Ragstone com manjericão numa base de sablé e um Parfait de Foie com cereja amarga e iogurte. Ambos delicados e executados na perfeição, com a mousse a a presentar uma subtileza deliciosa e o parfait a oferecer um contraste harmonioso entre o rico sabor do foie e o amargor da cereja.

Ostra e Champagne

Entre os amuse-bouche, destaca-se uma Ostra de Colchester vestida com cremes de ostra e aneto, finalizada na mesa com Champagne Ritz e óleo de ervas. Uma experiência indulgente, como não poderia deixar de ser!

Mas o melhor desta fase seria guardado para a Tartelete de Tártaro de Novilho com Caviar Oscietra e um toque de crème Fraîche. A salinidade do caviar tempera de forma única o tártaro clássico, criando uma combinação verdadeiramente sublime.

Tartelete de Tártaro de Novilho e Caviar Oscietra

Vieiras da Ilha de Mull, Bergamota e Abacate
O primeiro prato revela rapidamente a generosidade de  John Williams MBE na escolha dos ingredientes. Vieira crua, de tamanho e doçura impressionante, servida com uma fina gelatina de vinho de arroz, molho de soja e citrinos, acompanhada de puré de abacate e limão caviar. O resultando é uma entrada fresca e em pleno equilíbrio de doçura e acidez.


Ballotine de Foie Gras, Abrunhos e Pistáchio
Um dos clássicos da cozinha de John Williams MBE, é a ballotine de foie gras, marinada em Porto, Sauternes e Armagnac, envolvida numa gelatina de vinho do Porto e especiarias,  e servida com um gel de abrunho em conserva e iogurte de pistáchio. Ao lado,  um não menos deslumbrante brioche e uma tarte Bakewell de pistáchio. Este prato tem sido executado e testado ao longo de anos, sendo os produtos da melhor qualidade possível e o resultado e sabor muito difícil de igualar.

Duvido que alguma vez tenha provado um foie melhor!

Tarte Bakewell de Pistáchio

Lagostins à la Nage, Funcho
Sobre este prato, devo dizer que depois de acompanhar o restaurante há vários anos e de ler vários artigos, era aquele sobre o qual tinha mais expectativas. Um duo portentoso de lagostins escoceses, cozinhados em manteiga e servidos sobre puré de couve flor, funcho e legumes baby, sendo tudo ligado com uma nage rica e complexa.

No final, o prato correspondeu a tudo o que pensava sobre ele, um equilibrio perfeito de doçura, riqueza do molho e o contraste dado pelos legumes. Poderia comer isto todos os dias da minha vida!

 

Molejas, Parmiggiano Reggiano e Trufa
Para primeiro prato de carne surge à mesa uma moleja, levemente cozida a vapor até ficar macia, sendo posteriormente cozinhada em manteiga, alho e ervas e finalmente glaceada com um molho de trufas (de Périgord obviamente, ou não estivessemos no Ritz). Na mesa, é finalizada com um molho cremoso de Parmigiano Reggiano 36 meses. Um prato rico e untuoso, que demonstra a precisão e virtuosismo da cozinha do Ritz.

Por esta altura pensamos no quanto os críticos Michelin que passam por aqui devem estar loucos…

Pombo de Anjou à la Presse
Foi então a vez da cozinha partilhar o brilhantismo com a sala, dando o palco às artes da mesa  feitas come il faut. Para isso surge um Pombo de Anjou assado inteiro, desossado na mesa para separar os peitos, com a carcaça a ser prensada para que os seus sucos criem um molho rico e especial.

A imaculada prensa do Ritz

Os Sucos são posteriormente flamejados e trabalhados na mesa com vinho do Porto Graham’s, Pimenta verde e manteiga. Enquanto isso o peito é servido com couve rábano cozinhada ao sal para transmitir algumas notas mais terrestres. Ao lado, imaculadas pomme souflé, como se não tivesse existido técnica suficiente até aqui. 

Ponto da carne rosado e suculento, molho rico e pungente com a pimenta verde a servir de corte para a sua intensidade e a couve a equilibrar as notas com o seu lado mais erval. Um prato magistral, que todos os cozinheiros deveriam provar!

Maçã Cox, Sauternes e Baunilha
Apesar do aspecto “espumoso” o interior esconde uma moderna interpretação de uma tarte de maçã, com a mesma em diferentes texturas, desde gelado a espuma, passando pela maçã assada, um creme de sauternes e amêndoas caramelizadas. Uma pré-sobremesa refrescante e cheia de nuances.

Avelã Salgada, Praliné e Gelado de Leite
Um Snickers 2.0, onde todos os elementos e texturas se complementam numa execução irrepreensível. Doce, mas equilibrado, surpreende especialmente no final de um menu tão longo.

Porque era noite de comemoração, houve ainda tempo para um bolo de celebração (podem ser encomendados diretamente no momento da reserva), acompanhado de um delicado chá verde e petit fours: tartelete de framboesa, macaron de baunilha e bombom de ganache de chocolate.

Petit fours

A acompanhar a refeição, tivemos o prazer de beber o cada vez mais raro Viña Tondonia Branco 2009. Apesar de proveniente de um ano quente, o vinho revelou-se mais leve que o suposto e com uma complexidade e estrutura que harmonizaram perfeitamente com todo o menu.

O serviço no Ritz é clássico e diligente, refletindo a mestria de tempos passados sem nunca cair em excessos. Tudo surgiu no momento certo, os pratos, os sorrisos e as conversas, marcando uma experiência com uma precisão impecável, sem esforços aparentes ou falta de rigor, como deveria ser em todos os lugares.

Considerações Finais
Existem experiências difíceis de descrever na sua totalidade, e uma refeição no Ritz Londres é uma delas. Incompreensivelmente o guia Michelin continua a não valorizar a cozinha de John Williams MBE, que apresenta execução e produtos superiores a muitos três estrelas. Comer no Ritz é, sobretudo, um prazer indescritível, o que é mais do que podemos dizer sobre muitos restaurantes Michelin. É verdade que não tem o intuido de nos fazer pensar, de nos influenciar, de atingir likes no instagram, nem de nos contar histórias mirabolantes, mas sim de ser uma verdadeira celebração do gosto.

A cozinha francesa de John Williams MBE é clássica sem ser datada, refinada a um raro ponto de equilíbrio e com uma incessante procura pelos melhores produtos, revelando um resultado de rara beleza que merece a visita obrigatória de qualquer foodie que queira mais do que riscar números de uma lista.

Uma vez na vida, sem medos nem preconceitos, o Ritz é um lugar que todos devem conhecer!

Preços a partir de 120€ (sem vinhos)
O menu descrito custou cerca de 250€
The Ritz London – 150 Piccadilly, St. James’s – Londres

 

Fotos: Flavors & Senses
Textos: João Oliveira
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