Mayfair é um dos bairros mais exclusivos de Londres, famoso pelas suas ruas elegantes e a sua atmosfera de luxo. Refletindo isso mesmo, os restaurantes da região oferecem experiências distintas para atrair uma certa elite londrina. Se alguns se concentram na gastronomia, conquistando as almejadas estrelas michelin, outros há que se focam numa decoração ostentosa, criando espaços visualmente impressionantes, que nos apetecem visitar, mas que no entantanto não oferecem motivos para voltar, a menos que se viva do ver e ser visto ou se coma apenas com os olhos.
Mimi Mei Fair: Um Exemplo de Equilíbrio
Como em tudo, a virtude está no equilibrio e é aqui que se insere este Mimi Mei Fair, inaugurado em 2021 pela empresária Samyukta Nair e o seu LSL Capital, que detem, entre outros, o estrelado Jamavar, o Japonês Koyn e o francês Socca, este último em parceria com o chef Claude Bosi.
Instalado nos dois pisos de uma clássica Townhouse georgiana e com a decoração a cargo de Tom Stother do Fabled Studio, nenhum detalhe foi deixado ao acaso. O restaurante divide-se em várias salas, cada uma com um ambiente distinto, e uma identidade bem marcante saída do imaginário de uma visão moderna sobre a louca Shangai dos anos 20. Pensem num filme de Wong Kar Wai remisturado por Wes Andersen e perceberão o que quero dizer!
Mas como vos disse o Mimi Mei Fair pretende ser mais do que decoração. Para isso, conta com o comando do chef Peter Ho, cujo currículo inclui restaurantes estrelados e o comando da cozinha do Hakkasan em Londres durante vários anos, pelo que a expectativa era sumptuosa.
Subidas as estreitas escadas até ao primeiro piso, somos recebidos num salão repleto de texturas e contrastes, onde orquídeas magistralmente dispostas nos mostram que aqui a atenção está em todos os detalhes (será?).
Xiao Long Jewels
Como o nome deixa antever, estes xiao long bao (dim sum recheado que leva também no interior um caldo sobre a forma de gelatina que se torna líquido ao cozer) são as coloridas jóias da coroa. Com recheios variados de camarão, frango, porco, e inhame; todos estavam ótimos, com textura correta e sabor delicado com o caldo quente a rebentar na boca.
Seleção de Dim Sum do Mar
Har gau, siu mei de polvo e vieiras constituem a pequena seleção de sabores marítimos. Mais uma vez bem executados e de sabor correto, com o siu mei de polvo a surpreender pelo contraste de texturas, resultando bem melhor que o esperado.
E agora o que nos trouxe até aqui, um tradicional Pato à Pequim, assado em lenha de macieira e trinchado na mesa como mandam as tradições. Já pude provar vários patos à pequim, dos restaurantes americo-chineses low cost a restaurantes estrelados.
Se quase sempre o tesouro é a pele crocante, aqui o ponto alto vai para o ponto de cocção da carne, que é tantas vezes servida seca e sem interesse e que aqui se apresenta rosada e suculenta.
Por contraste e talvez por esse belíssimo ponto a pele não tinha toda a crocância que se esperaria. Uma balança difícil de equilibrar mas que a meu ver pendeu para o ponto da carne.
A acompanhar, não falta o açúcar para a pele (sim estão a ler bem e devem prová-lo assim que possível), e as habituais panquecas ainda quentes, quase translúcidas, pepino, alho francês, os molhos e, ao lado, uns espinafres de água salteados. Tudo irrepreensível, ou quase, se toda a pele estivesse um pouco mais crocante. Sim estou a ser picuinhas, mas o prato não é barato e o restaurante é reconhecido por ele.
Tarte de Amêndoa, frutos vermelhos e gelado de baunilha
Os restaurantes chineses não são propriamente reconhecidos pelas suas sobremesas, pelo que aqui a escolha recaíu por combinações simples mas mais internacionais, como esta tarte de amêndoa com frutos vermelhos e gelado de baunilha. Um final correto mas sem mais…
Para harmonizar, tivemos um Chablis Premier Cru que acompanhou corretamente todo o menu, sem excessos nem surpresas.
E aqui fica a tal falta de atenção aos detalhes, o que não aconteceu na decoração acabou por acontecer no serviço. Se por um lado a recepção ocorreu da melhor forma, o decorrer do almoço foi-se perdendo com o passar do tempo. Num final de almoço e com o restaurante quase vazio seria de esperar mais esmero, atenção à mesa e menos desleixo com o padrão (uma equipa reunida ao balcão em amena conversa enquanto os clientes procuram a garrafa de vinho não é de bom tom). Pelo menos não num restaurante em que as regras de reserva e conduta são distintas das de um restaurante familiar onde vamos diariamente.
Considerações Finais
A etiqueta de Mayfair vem com um preço, e da mesma forma que as carteiras de luxo não nascem todas iguais, também os restaurantes precisam merecer o seu valor. Pela nossa experiência o Mimi Mei Fair tem tudo para ser o ponto de encontro da culinária chinesa sofisticada, atraindo trendsetters e foodies. A decoração deslumbrante e temática até aos pratos cuidadosamente preparados e de estética apurada, cada aspecto do restaurante foi pensado para encantar e surpreender os visitantes, tornando-o ideal para um jantar romântico ou uma ocasião especial.
Se voltamos? Pelo pato voltaria já hoje! Com um pedido reforçado de pele crocante e um serviço mais condizente com a taxa aplicada no final da conta.
Preços a partir de 60€ (sem vinhos)
55 Curzon Street, Mayfair – Londres