Traça

Gosto de experimentar restaurantes novos, não recém nascidos mas quando começam a gatinhar, por vezes corre bem, por vezes corre mal, outras são lineares sem deixar memórias. Falando em espaços novos, surgiu há alguns meses num espaço com graça o restaurante Traça, espaço que pretende marcar pela diferença da sua cozinha, pela originalidade do seu espaço e claro à semelhança de outro espaço dos mesmos donos, para ser um sitio da moda, para “gente gira” como se diz e para o qual convém fazer uma reserva com antecedência. O restaurante localizado no recuperado Largo de S. Domingos está maravilhosamente decorado, mantendo a “Traça” do espaço original com apontamentos que lhe dão um ar kitsch bastante acolhedor. Com a carta decidiram colmatar uma falha na cidade e apostar numa carta de inspiração espanhola em particular os pratos de caça.

Iniciamos a refeição com um couvert simples mas bem constituído por um saboroso pão e manteiga de ervas.

Pão com Tomate (2,20€)
Saboroso molho de tomate a fazer lembrar um Romesco onde se volta a encontrar pão de ótima qualidade.

Traçados com creme ali-oli (7€)
Traçados, isto é, panado de porco enrolado com presunto e pimento piquillo. O Panado em si estava bem confecionado e revelou-se interessante (e calórico) quando combinado com um saboroso molho que não fosse o nome interessante com hífen e seria um aioli a caminhar para tártaro. Sem dúvida uma boa entrada.

Croquetes cremosos de cecina ou presunto (7€)
Foi bom verificar que alguém por estas bandas utilizou cecina num restaurante, a cecina, é semelhante ao presunto mas oriunda da vaca. Os croquetes de estilo espanhol com um forte bechamel misturado com a cecina ou com o presunto, eram bastante saborosos, contudo devem ter em atenção a técnica de fritura para que não sejam servidos com demasiado óleo.


Lombo de Javali Recheado com queijo de cabra e foie sobre compota de frutos vermelhos e creme de maçã servido com batata palha (18€)
A casa promete especialidade em pratos de caça, o nome salta à vista e cativa o comensal, com a chegado do prato verifica-se que a apresentação é curiosa, mas é também ai que surgem os problemas. Os molhos vinham demasiado frios e consequentemente também a carne. A compota, o creme de maça, mais a redução criavam uma mistura doce, demasiado doce para contrastar com o pouco queijo que recheava o interior das esferas de javali. Quanto à batata palha, eu sei que na cidade do Porto é um acompanhamento clássico para uma série de pratos, mas aqui não fez grande sentido. Um prato que precisa de ser claramente trabalhado e servido correctamente.

Entrecote de Vitela na chapa com batata palito e salada (15€)
O Entrecôte chegou à mesa no ponto desejado (apesar de não me ter sido perguntado qual seria, adivinharam), a salada, podia ser algo mais elaborada e bem apresentada. No que diz respeito à batata mais uma vez existem falhas, a batata é demasiado simples e para isso deveria ser extraordinária ou neste caso, saborosa e bastante crocante.

Mousse de Queijo com frutos vermelhos (3,20€)
Um Delicioso creme de queijo bem acompanhado por uma sopa de frutos vermelhos. Uma ótima escolha.


Tarte fria 3 chocolates (4,5€)
Desta sobremesa só lamento que a dose não fosse maior. Uma boa base crocante, 3 camadas de chocolate bem distribuídas, sem excesso de doçura e com uma ótima textura.

A carta de vinhos tem boas referências com preços corretos, além de um bom serviço de vinho a copo.

O Serviço de sala é correcto e musculado (têm de subir e descer vários lances de escadas) sem grandes lacunas. Na cozinha é que deve ser tida em conta a temperatura dos pratos e os pontos de técnicas de confeção.

Considerações Finais
A verdade é que o Traça é um restaurante diferente, pelo hype em que está envolvido, pela decoração e ambiente, pela influência espanhola (ou ibérica como se diz) e pelo preço (não é um restaurante barato). Face a este último ponto, existem falhas que não devem acontecer quando se cobra um determinado preço pelos pratos. Dito isto, o Traça é mais que um restaurante da moda, é um restaurante que vale a pena visitar, com destaque para as entradas que poderão servir de tapas para um animado jantar (além das nossas, fomos vendo outras que voavam para as mesas vizinhas e algumas, como é o caso da sertã de bacalhau ou das lâminas de foie prometem. Se o Traça é um grande restaurante de caça, digo enquanto transmontano que não é, mas também não acredito que o queira ser.

Traça
Largo S. Domingos, 88, 4050-545 Porto
222 081 065

2 Comments
  1. Fiquei algo curiosa. Já não é a primeira critica ao Traça que leio, a Time Out fez uma num dos últimos n.ºs de modo que como tira-teimas mais vale “comer pelos meus próprios olhos” 🙂

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