2º Dia
Bairro Judeu e Cidade Velha
Como já vos havia dito, ficamos hospedados no zona do Bairro Judeu, por isso no nosso segundo dia optamos por visitar esta região e também a região da Cidade Velha.
Antiga-Nova Sinagoga
Relativamente ao Bairro Judeu, parece não conseguir saber-se com exatidão qual a data de chegada dos judeus a Praga, mas as fontes parecem apontar para o século XIII. Nos séculos que se seguiram, estes foram obrigados a viver numa comunidade à parte, local onde se situa hoje o Bairro Judeu, onde trabalhavam e estudavam apenas nos limites daquela zona.
O espaço era tão restrito que sepultavam os mortos em várias camadas, cujas sepulturas podemos observar hoje no imponente Cemitério Judaico. Com a ascensão ao poder do imperador Josef II estas restrições foram abolidas e muitos judeus abandonaram o bairro, tornando-se num local ocupado pelas pessoas mais pobres da cidade.
O Bairro é constituído pelo Antigo Cemitério Judaico, Antiga-Nova Sinagoga, Convento de Santa Inês, Câmara Municipal Judaica, Alta Sinagoga, Sinagoga Maisel, Casa Cerimonial, Sinagoga Klausen, Sinagoga Pinkas e Sinagoga Espanhola.
O bilhete para ver praticamente todos estes edifícios fica por 480 CZK –(aproximadamente 18€).
O Antigo Cemitério Judaico é, provavelmente, o local mais impressionante de todo o bairro, conseguimos sentir o “peso” deste local, tão triste e ao mesmo tempo tão nobre. Estima-se que haja cerca de 200 000 sepulturas sobrepostas neste cemitério, sendo a mais antiga do século XIV e a mais recente do século XVIII. Aqui encontramos túmulos de alguns dos mais importantes judeus de Praga, como Mordecai Maisel (presidente do bairro no reinado de Rudolfo II), Rabino Loew (o criador de Golem, o ser de barro que ele criou para proteger o bairro, e cujos restos mortais se encontram, supostamente, no sótão da Antiga Nova Sinagoga!), e David Gans (discípulo de Loew e importante astrónomo do século XVIII), entre outros.
A Antiga Nova Sinagoga é a mais antiga da Europa e assistiu a alguns dos momentos mais conturbados da história dos Judeus. O seu nome deve-se ao facto de ter sido construída uma nova sinagoga depois desta que adotou o seu nome, mas veio a ser destruída mais tarde.
Todos os edifícios deste bairro são belíssimos, alguns de estilo barroco, como é o caso da Câmara Municipal Judaica, cujos ponteiros do relógio andam ao contrário, pois as letras hebraicas no mostrador leem-se da direita para a esquerda, ou a Sinagoga de Klaisen, contígua ao cemitério que foi construída no local duma escola e sala de oração e hoje expõe arte judaica; alguns de estilo gótico como o Convento de Santa Inês, que pertence à Galeria Nacional e guarda alguma da melhor arte checa medieval, também neste estilo temos a Sinagoga Pinkas, um monumento às cerca de 80 000 vitimas checas do holocausto, cujos nomes se encontram escritos nas paredes, assim como a exposição de cartas e desenhos de algumas crianças; alguns de estilo neogótico como é o caso da Sinagoga Maisel, sendo que a que vemos hoje em dia não é a original, esta terá sido destruída por um grande incêndio em 1689, a original terá sido autorizada por forma a Rodolfo II agradecer a Mordecai Maisel toda a ajuda financeira na guerra da Boémia contra os Turcos, na altura da sua construção era a maior sinagoga da cidade. No seu interior temos pratas judaicas e peças importantes, roubadas na altura da Segunda Grande Guerra pelos Nazis.
Aliás, triste pensar que estes planeavam, mais tarde, construir um museu com estas peças dedicado aos judeus como sendo uma “raça extinta”. Enfim!
O Bairro Judeu tem ainda a Alta Sinagoga, um elegante edifício renascentista, que foi construído juntamente com a Câmara Municipal, e a Sinagoga Espanhola do século XIX, com o seu opulento interior mourisco, neste local situava-se a primeira casa de culto judaica da cidade.
Deixamos para trás o belíssimo Bairro Judeu e toda a sua história conturbada e seguimos para a Cidade Velha, o local de Praga que nos faz pensar que entramos diretamente para um filme de vampiros!
O coração de Praga está repleto de história e de edifícios majestosos, que vão desde o Românico ao Gótico, até ao Brutalista.
Um dos primeiros locais por onde passamos até chegar à mítica praça da Cidade Velha, é a Ponte Carlos, mas essa já vos falei no primeiro dia, por isso rumemos diretos à Praça.
Dizem que dá sorte tocar na Cruz de Lorena na Ponte Carlos
No século XI esta praça era um mercado, mas a partir de 1338 foi formado um concelho municipal, e a Câmara da Cidade Velha foi construída, fazendo com que a praça ganhasse bastante importância.
Hoje é um local extremamente animado, repleto de pessoas deslumbradas com os edifícios e com todo o ambiente à sua volta.
Igreja de Nossa Senhora de Týn
Aqui podem visitar a monumental Igreja de Nossa Senhora de Týn, um belíssimo edifício gótico, cujo interior não faz jus ao exterior, que possui duas impressionantes torres escuras que conferem um ambiente de filme de terror à praça.
Bem no centro da praça ergue-se uma imponente estátua, o Memorial a Hus, o reformista católico condenado à fogueira de que vos falei na síntese histórica da cidade.
Outro edifício estonteante pela sua beleza e dimensão é a Câmara da Cidade Velha, que exibe o magistral Relógio Astronómico que relata não só as horas, mas também o movimento dos planetas à volta da Terra e do Sol e da Lua pelos signos do zodíaco. É uma obra de arte deslumbrante, no entanto quanto à mudança de hora e a possibilidade de verem o relógio a “dar as horas”, a não ser que estejam a passar por lá nesse preciso momento, não vale a pena esperarem, não é um espetáculo que valha a espera, são meia dúzia de figuras que mal se veem de uma janelinha minúscula que se abre ao som de uma música alegre!
No parapeito sobre o telhado da câmara podem vislumbrar toda a vista da cidade através da Galeria Panorâmica, cujo acesso é feito através do premiado Elevador (melhor design em 1999).
Outro pormenor importante na praça é a casa onde o famoso escritor Franz Kafka viveu em criança, as paredes da fachada desta casa estão cobertas com gravuras de símbolos de alquimia, que datam de 1611.
Outro edifício que merece visita é a Igreja de S. Nicolau, como se devem lembrar, já vos falei de outra igreja de S. Nicolau anteriormente, no Bairro Pequeno, pois é, Praga tem duas igrejas barrocas de S. Nicolau, sendo que esta é mais antiga. Quer nesta, quer na igreja do Bairro Pequeno realizam-se imensos concertos de música clássica, que é algo que ainda não vos tinha falado, por favor, não percam um destes concertos, nós não tivemos oportunidade de o fazer, (mas fizemo-lo uns dias depois em Budapeste!) mas tenho a certeza que são imperdíveis.
Ainda na Cidade Velha não percam o imponente edifício de art nouveau, a Casa Municipal, o principal monumento da Praça da República. E se sentirem falta do cunho de história antiga, têm mesmo ao lado a Torre de Pólvora gótica, com uma das melhores vistas da cidade. A Casa Municipal tem um passado bastante importante, uma vez que foi o local onde foi declarada a independência da Boémia do Império Austro-Húngaro, e posterior formação da primeira república da Checoslováquia.
Decidimos parar um pouco para relaxar, poderíamos ter escolhido o café da Casa Municipal, dada a nossa localização e tendo em conta que é um dos mais elegantes da cidade, mas já havíamos feita uma outra escolha no dia anterior, e reservado – sim é preciso reservar – uma visita ao mais famoso bar de Praga, o Hemingway Bar, onde bebemos alguns dos melhores cocktails das nossas vidas, não admira que este seja o bar preferido dos mais importantes barmans do mundo! Um ambiente intimista e elegante, que facilmente nos transporta para um mundo distinto onde poderíamos conviver com escritores e espiões.
Demos por finalizado mais um dia, exaustos mas imensamente felizes, voltamos ao Hotel (não sem antes passar, mais uma vez, pela Ponte Carlos) e descansamos um pouco antes de ir para um jantar memorável no Bellevue.
3º Dia
Cidade Nova
O terceiro e último dia foi um bocadinho mais calmo, mas igualmente agradável, e hoje decidimos, então, passear pela animada Cidade Nova.
Esta foi fundada em 1348 e pouco se alterou desde aí. Nascida fora das antigas muralhas da cidade, o esquema de desenvolvimento urbano ordenado por Carlos IV impunha avenidas direitas nos diferentes aglomerados desta região.
Um encantador Café na Praça de Venceslau
Esta era uma rede bem planeada de ruas e mercados, ao contrário da sua “antagonista” a Cidade Velha.
Nesta zona, bem distinta das restantes, estende-se a Praça Venceslau, um antigo mercado de cavalos, que expressa bem a história de Praga do século XX, com os seus edifícios de bonitas fachadas de art nouveau. Esta praça já foi palco de marchas, protestos e celebrações que foram moldando a cidade nos últimos 100 anos.
Grand Hotel Evropa
Um dos edifícios mais mediáticos ao longo desta praça é o Grand Hotel Evropa, que ainda conserva a sua belíssima fachada original.
Ao longo da praça, que é quase em estilo de avenida, podemos encontrar vários pontos importantes, como a imponente estátua de S. Venceslau de 1912, ou o Memorial Comunista, em homenagem às vítimas do comunismo.
Há também dois edifícios a prestar atenção, o Palác Lucerna, que abriga uma galeria de arte, cinema, cafés, lojas, e um salão de baile, e o Palác Koruna, de estilo “modernista geométrico”, que já foi um local de banhos turcos, e é atualmente um shopping com variadíssimas lojas de luxo.
Numa das pontas da praça encontra-se um edifício que capta todas as atenções, o ilustre Museu Nacional. Algumas das suas coleções estão espalhadas pelo país, no entanto, as coleções de história e de história de arte são as mais significativas e encontram-se neste edifício neorrenascentista. Não o visitamos, infelizmente, pois encontra-se fechado para restauro.
Muito próximo da praça, na rua de Národní, aproveitem para relaxar num dos mais mediáticos cafés de Praga, seja no Café Slavia, um dos mais bonitos cafés da cidade , ou no Café Louvre, outrora frequentados por Franz Kafka.
Após o descanso merecido é tempo de ver o local da primeira Defenestração de Praga, a Câmara da Cidade Nova. Em 1419 uma multidão anticlerical atirou o presidente da câmara católico e os seus conselheiros de uma janela da câmara, marcando, assim, a data da primeira Defenestração de Praga.
Continuando a vaguear pela Cidade Nova, encontramos o soberbo edifício renascentista do Teatro Nacional, não visitamos o seu interior, nem assistimos a nenhuma ópera, no entanto se forem com mais tempo não percam essa oportunidade.
Cerca de meio kilómetro à frente do Teatro podemos ver um dos mais estranhos ou, melhor dizendo, diferentes edifícios da cidade, o Prédio Dançante! Construído na década de 90, recebeu este nome devido às duas torres que se assemelham a dois bailarinos. Atualmente, encontra-se preenchido por escritórios, excetuando o sétimo piso onde se situa um restaurante, que apresenta uma excelente vista da cidade.
Já cansados, só nos resta dar por terminado este dia, finalizando com um maravilhoso jantar no Čestr (ver) e depois rumar à última noite na nossa maravilhosa “casa” em Praga, pois amanhã é dia de viagem até ao nosso próximo destino, Viena!
Adeus cidade mágica, cidade de conto de fadas, cidade apaixonante, cidade boémia… Adeus Praga!
Onde Ficar
InterContinental Praga
Fotos: Flavors & Senses com a Sony A7S
Nota
– As fotos nem sempre representam a nossa primeira passagem nalguns dos locais ou o mesmo dia de viagem.
Este Artigo é o 2º de 2 artigos para o nosso Guia de Praga (ver Dia 1).