O Parlamento visto do Castelo de Buda
A última das três cidades de uma maravilhosa viagem ao centro da Europa.
Assim conhecemos Budapeste, ao entardecer num dia de Outono, com cores vivas e paisagens místicas a rivalizarem com o cunho cosmopolita da cidade que cedo nos fez apaixonar.
Budapeste é isso mesmo, é um local onde encontramos um palácio medieval, uma igreja gótica, um edifício barroco, uma ruela escondida, uma avenida luxuosa, uma praça repleta de bares e cafés, onde encontramos de tudo e em que o passado, o presente e o futuro vivem em harmonia!
É a cidade das duas cidades, a misteriosa e mágica cidade de Buda e a agitada e empresarial cidade de Peste.
Uma excelente forma de terminar uma viagem por três cidades distintas mas com tanta história em comum.
História da cidade de Budapeste
Budapeste terá tido o seu início no século I a.C. quando foi ocupada pelos romanos, que permaneceram durante séculos.
Já em 896 foi a vez das tribos Magiares se instalarem na região.
Em 1000 o famoso rei Estevão é coroado monarca e declara o país um Estado Cristão.
Seguem-se as invasões dos Mongóis durante o século XIII.
Mais tarde, entre 1458-90 a cidade torna-se uma das principais capitais do renascimento europeu, durante o reinado de Mátyás.
Já no século XVI os Turcos invadem a cidade e aí permanecem por 150 anos, até que em 1686 foi libertada por um exército aliado europeu. Os Habsburgos passaram, então, a controlar a Hungria (lembram-se deles da história de Viena, certo?! Ver ).
Nos séculos seguintes segue-se a Era da Reforma, em que várias instituições públicas são criadas, e a cidade vai evoluindo favoravelmente.
Entre 1848-49 dá-se a Guerra da Independência, quando o país tenta libertar-se do domínio do Império Austríaco mas sem sucesso, até que em 1867 é acordado o Compromisso que estabelece uma monarquia dupla entre a Áustria e a Hungria.
Até que em 1918, após a Primeira Guerra Mundial, os impérios se dissociam.
Mais tarde com a ajuda e “libertação” do país da Alemanha Nazi da Segunda Guerra Mundial, pelas mãos dos russos, o país caiu num período de Comunismo por cerca de 45 anos, até que em 1989 são anunciadas eleições livres.
Através deste pequeno resumo de história conseguimos perceber que Budapeste tem muita arquitetura do renascimento, há arte espalhada em cada recanto, possui também uma influência Imperial muito marcada, por parte do Império Austro-Húngaro, tem também, em algumas zonas, uma face mais sombria, influenciado pelos anos de domínio comunista, mas acima de tudo tem, nitidamente, uma cultura muito boémia.
Assim, viajamos numa breve história de Budapeste e da Hungria, e agora vamos viajar pela cidade!
À semelhança das outras cidades, Praga e Viena, elaborei um roteiro de três dias, não deu para fazer tudo o que queríamos mas deu perfeitamente para ficar a conhecer a essência de Budapeste e para querer voltar no futuro.
É uma cidade muito acessível em termos de preços, os locais de visita e os transportes são bem mais baratos relativamente a outras cidades europeias (o facto de virmos de Viena também faz com que tudo pareça mais barato!).
A cidade pode ser facilmente dividida em cinco zonas, não tivemos tempo para visitar todas, mas estivemos em três, por isso falar-vos-ei do que conseguimos fazer em três dias e do que vos sugiro caso consigam ir mais tempo, cinco dias parece-me ser o suficiente.
Vista sobre o Hotel de Gellért, famoso pelos seus banhos termais
As cinco zonas em que a cidade pode ser dividida são as seguintes:
– Bairro do Castelo – Buda
– Lipótvaros (Parlamento) – Peste
– Belváros – Peste
– Gellért-Hegy e Rózsadomb – Buda
– Oktogon e Városliget – Peste
Apenas passeamos pelas três primeiras, por isso é dessas, essencialmente, que vos vou falar.
1ºDIA
– Belváros
Chegamos à cidade já de tarde, vindos de comboio (duração da viagem: 4h) de Viena, o edifício da estação já fazia adivinhar uma cidade muito bonita e bastante agitada. O sol fazia sentir-se, apesar do frio, e seguimos então caminho até ao hotel (ver) para deixar as malas e sair à descoberta da cidade.
Como já era de tarde, optamos por passear pela zona mais próxima do nosso hotel, Belváros, e deixar os locais mais distantes para os outros dias.
Em Belváros existem alguns locais onde podem visitar o seu interior, ou simplesmente optar por passear e aproveitar a cidade como um local e não como um turista, que foi o que fizemos. Passeamos sem destino específico e fomos conseguindo descobrir uma cidade animada, com um traço boémio maravilhoso, e com uma surpresa ao virar de cada esquina.
Seguimos a nossa viagem (a pé, claro) pela rua mais famosa da cidade, a Váci utca. Esta rua é ladeada por restaurantes, bares, cafés, lojas de roupa, de jóias, livrarias, e muito mais.
As belas esplanadas amontoam-se umas em cima das outras e para todo lado que olhamos há uma imensidão de pessoas.
Se quiserem parar para tomar um café ou comer algo, os bares/cafés são uma excelente opção, mas os restaurantes são uma péssima escolha, muito mais caros que os restaurantes do resto da cidade, e nada tradicionais, são uma autêntica caça ao turista (não quer dizer que não possa haver um ao outro que sejam bons, mas no geral não é o que acontece, infelizmente), no entanto, para melhor usufruírem desta zona, aconselho-vos a tomar um café, num dos cafés mais antigos e famosos da cidade.
Para mim o mais interessante é talvez o Gerbeaud, na praça Vorosmarty tér, que se pode considerar a ponta norte da Váci utca. Esta praça é, também, por si só um belíssimo local, com ambiente boémio e imperial ao mesmo tempo, que no mês de Dezembro se transforma num belíssimo mercado de natal.
Esta avenida, que nos tempos medievais já atravessou Peste dum lado ao outro, tem sido um local para passear e fazer compras desde o século XVIII, atingindo o seu auge em finais do século XIX e inícios do século XX.
Atualmente, mantém-se como um ponto de referência da cidade, e uma das zonas mais visitadas por turistas e ocupadas por locais para os seus encontros e saídas habituais, ainda que para compras as melhores lojas da cidade estejam agora na avenida Andrássy.
Interior da Igreja de Váci uca
Na zona de Belváros há três locais importantes que podem escolher para visitar (optamos por não visitar o interior de nenhum destes museus pois nesse dia já não tínhamos tempo e nos dias seguintes já tínhamos locais específicos que considerávamos mais importantes):
A Nagy Zsinagóga e Zsidó Múzeum ou Grande Sinagoga é a segunda maior do mundo (a maior é a de Nova Iorque) e o Museu Judaico ao seu lado retrata o holocausto na Hungria.
A Grande Sinagoga é um edifício lindíssimo e eclético que impõe a sua presença, atrás desta fica um parque memorial onde estão sepultados muitos dos judeus que morreram quando esta região de cidade se transformou num gueto.
Quanto ao Museu Judaico, este partilha com o mundo a tragédia do holocausto, recordada em fotografias da época.
Museu Nacional Húngaro
O Magyar Nemzeti Múzeum ou Museu Nacional Húngaro é o maior do país e abriga uma das mais importantes peças para o povo, o Manto da coroação do Rei Estêvão I.
Instalado num colosso neoclássico o museu nasceu através da iniciativa do grande reformista da cidade, Ferenc Széchényi, em 1847 pelas mãos do arquiteto Mihály.
Aqui vão poder encontrar uma vasta coleção de gravuras, manuscritos, livros, mapas, esculturas de pedra medievais, lapidário romano, e toda a história desde os primórdios da cidade até à libertação do comunismo.
Destaque mais importante: sintam-se a pisar a história, pois foi nos degraus deste edifício (degraus exteriores) que se deu um dos momentos mais significativos do país, o hino nacional pelas palavras do poeta Sándor Petofi a exortar os Húngaros a libertaram-se do jugo dos Habsburgos. Talvez uma das principais causas da Guerra da Independência de 1848-49, que viria a ser ganha pelos Habsburgos.
O Iparmuvészeti Múzeum, ou Museu de Artes Aplicadas, é outro dos locais a visitar na região de Belváros e que vale por si só, independentemente das suas coleções, sendo um exemplo perfeito da arquitetura Secessionista, com traços islâmicos, hindus, e vários temas orientais. O edifício foi inaugurado para a Exposição Mundial de Viena em 1873, sendo que nesta altura ainda não tinha o cunho arquitetónico e decorativo atual, o que se verificou mais tarde, já em 1896.
No seu interior podem encontrar-se antiguidades, mobiliário e decoração art noveau, cerâmicas, têxteis, vidro, pratas e gravuras das grandes coleções do museu.
Se não for do vosso gosto este tipo de museus, pelo menos não percam a sua beleza exterior.
Na outra ponta da Váci utca terminamos o nosso passeio no Grande Mercado, o Nagycsarnok. Construído no final do século XIX é um belíssimo edifício art noveau que fascina mais por fora do que por dentro. No seu interior encontramos três pisos com imensas bancas repletas de variadíssimos alimentos com um aspeto muito saboroso, e também com peças de artesanato.
Não é um mercado tão incrível como alguns dos que já visitamos noutros países, mas serve bem as necessidades da cidade.
Depois desta maravilhosa e revigorante caminhada, que já nos permitiu conhecer parte de Peste, regressamos ao hotel para descansar um pouco e nos prepararmos para um jantar tradicional húngaro no restaurante És Bisztró do Hotel Kempinski (ver).
Onde Ficar
InterContinental Budapest
Kempinski Hotel Corvinus
Texto: Cíntia Oliveira | Fotos: Flavors & Senses com a Sony A7S
Nota
– As fotos nem sempre representam a nossa primeira passagem nalguns dos locais ou o mesmo dia de viagem.
Este Artigo é o 1º de 2 artigos para o nosso Guia de Budapeste