Nespresso Gourmet Weeks na Casa de Chá da Boa Nova

O edífício talhado entre as rochas, que dispensa apresentações

Depois de um jantar no The Yeatman – sobre o qual já escrevi aqui – seguiu-se um jantar muito particular na Casa de Chá da Boa Nova, uma das últimas estrelas da região, comandada pelo célebre Rui Paula, que para este jantar convidou Miguel Rocha Vieira, uma dupla bem conhecida dos portugueses, ou não fossem eles os jurados do famoso Masterchef!

Fama, tv e celebridades à parte, estes jantares servem bem para mostrar que estamos a falar de pessoas do mundo real, que sofreram para subir na sua profissão e que é na agitação da cozinha, que se sentem felizes e como peixes na água.

Por falar em água, é coisa que não falta quando entramos na Casa de Chá da Boa Nova, e as amplas janelas de vidro nos mostram que estamos ali mesmo, prestes a jantar em cima do mar, com o som das ondas como música ambiente, e um benevolente S. Pedro a dar-nos uma noite melhor que muitas noites de Verão. Estava lançado o cenário perfeito!

E foi ali mesmo, na pequena esplanada sobre as rochas que começaram as festividades, um brinde com Cattier Blanc des Blancs,  de ligeira doçura mas com firme elegância, que serviria também de companhia aos pequenos snacks preparados para aquela noite.

Carlos Monteiro (Escanção)

E começamos muito bem, com uma interessante sopa de peixe a rechear uma massa crocante com salmão e ikura, técnica e sabor a representar na perfeição o que é a finger food.  Seguiu-se um refrescante e equilibrado cone de Cavala com iogurte, um pão Bao (pão asiático cozido a vapor) com atum e um ótimo Macarron (de textura bem diferente do doce parisiense) de algas com Sardinhas.

Sopa de Peixe

Cone de Cavala e Iogurte

Em suma, um excelente início, repleto de sabores a mar, que é o que realmente apetece quando jantamos num local com estas vistas, e um bom preságio para a refeição que se seguiria.

Já na mesa, bem posicionada junto a uma das largas janelas da sala, é díficil afastar os olhos do horizonte enquanto nos vão sendo apresentados os vários pães que acompanhariam o serviço, pão de chili, pão rústico e focaccia de mandioca. Pães sem grande glória, onde a focaccia passa com alguma distinção, mas os restantes a serem facilmente esquecidos quando combinados com as boas manteigas apresentadas – Manjerição, tradicional e de noz pecan.

O imperdível por do sol da Casa de Chá da Boa Nova

No que diz repeito aos pratos, coube a Rui Paula abrir noite, e logo com um dos melhores pratos da noite – Lagostim, couve-flor e ar de Exclusive Selection Kilimanjaro Peaberry – prato de refinado balanço entre técnica, sabor e equilibrío. Lagostim de porte considerável cozinhado na perfeição, doçura bem conjugada com as notas de terra das texturas de couve-flor, molho rico e leve ar de café a trazer uma nova dimensão ao conjunto, sem o desvirtuar. Muito, muito bom!

Lagostim, couve-flor e ar de Exclusive Selection Kilimanjaro Peaberry

Com o cuidado de escolher o vinho esteve António Lopes – sim, além de um chef convidado, para este jantar houve também um escanção convidado – e logo com um dos nomes fortes da nova geração de escanções portugueses, que depois de uma passagem pelo Gusto (Conrad Algarve) inicia agora um novo projeto com o grupo Anantara. E a sua escolha recaíu, e bem, sobre um Soalheiro Terramater 2015, de nariz intrigante para um alvarinho, mas complexo, com a boca a revelar algumas notas de manteiga, que combinada com a sua frescura, criaram uma óptima harmonização com o prato.

Pombo assado e beterraba com Exclusive Selection Nepal Lamjung

Da delicadeza do Lagostim, seguimos para um Pombo assado, apresentado por Miguel Rocha Vieira, que bem poderia ser um prato principal, demasiado rico e intenso para suceder à subtileza e elegância do Marisco. Ainda assim com cocção exímia, e sabores bem apurados, com o café a fazer-se sentir subtilmente, permitindo ao pombo brilhar com as boas nuances de terra dadas pela beterraba.

No copo, um dos vinhos que nos últimos tempos me tem dado bastante gozo de beber, o Conciso 2014 da Niepoort, o topo de gama da sua aventura de sucesso nos vinhedos do Dão. Um tinto bastante fresco e elegante como só Dirk Niepoort sabe fazer, aqui com a sua pouca concentração, a sua boa acidez e as notas de fruta fresca a equilibrarem muito bem com a riqueza do prato. Uma boa escolha de Carlos Monteiro, o escanção responsável pelos vinhos do Boa Nova.

Robalo do Mar, carabineiro, bisque, aipo e Exclusive Selection Kilimanjaro Peaberry

Mantendo-nos com Miguel Rocha Vieira, seguiu-se outro dos grandes pratos da noite, numa boa conjugação de sabores do mar e da terra, com um interessante jogo de texturas. Destaque para a doçura e iodo do carabineiro, bem casado com a bisque e o robalo de bom porte, que se eleva com a frescura do aipo e a textura e corpo da cevadinha que lhe serve de base. Bom também o recurso à pele do peixe crocante!

Nos vinhos a escolha manteve-se acertada, com um Principal Rosé Tête de Cuvée 2010, uma das grandes referências nacionais no que diz respeito a vinho rosé, que revela um nariz surpreendente para um vinho com 7 anos, com interessantes notas de fruta e uma ligeira tosta, a casar muito bem com as nuances de café trazidas pelo prato. Mas foi a frescura e a marcante acidez que certamente levaram o Carlos Monteiro à escolha do vinho.

Vazia de Wagyu, molho de pimenta  e crocante com Exclusive Selection Nepal Lamjung

Para finalizar os pratos principais, Rui Paula, apresentou uma vazia de Wagyu, de excelente textura e bom sabor, que ainda assim não deixou marca. Nota mais interessante para o apuro técnico do acompanhamento, com 3 texturas de batata – não quero imaginar a vida do infeliz que teve de preparar as pequenas pommes soufflé para todos os comensais!

No copo esteve um bem interessante Frei João de 1980,  cujas notas terciárias e a particular sensação de café, acabou por criar um bom conjunto.

Café da manhã com espuma de Exclusive Selection Kilimanjaro Peaberry

Seguiram-se, e bem, duas sobremesas propostas pela equipa de Rui Paula, primeiro uma refinada alusão ao clássico pequeno almoço português – um galão e um bolo – aqui recriada com uma pequena bola de berlim, um gelado e uma espuma de Exclusive Selection Kilimanjaro Peaberry que nos transporta rapidamente para esse momento do dia.

Bons sabores é certo!  Mas foi com a aparente simplicidade da segunda sobremesa que Rui Paula fechou a refeição com, digamos “talheres de ouro”. Uma combinação que a mim continua a remeter para a primeira refeição do dia, fruto do uso dos cereais, do pão tostado, do café e dos frutos secos.

Uma excelente combinação de texturas, que foram do gelado à mousse, ao crocante e caramelizado com sabores de panificação e fruto seco que se revelou perfeito na combinação com o excelente Malmsey de 1999 da Blandy’s.

Nota alta para os escanções que estiveram em modo de alta performance e para os chefs que levaram à risca a utilização dos novos cafés da Nespresso, exclusivos para restaurantes Michelin, que apesar de usados com bastante caução e subtileza estiveram presentes em todos os pratos do menu.

Considerações Finais 
Foi mais um ótimo jantar deste Nespresso Gourmet Weeks, com a particularidade de juntar dois dos mais badalados chefs nacionais, para uma refeição onde o café foi tema central e mostrou mais uma vez toda a sua vocação gastronómica.

Nota alta para a cada vez mais apurada e refinada sensibilidade da cozinha de Rui Paula e para o sempre engenhoso jogo técnico de Miguel Rocha Vieira em torno das texturas e dos acompanhamentos.

Agora é esperar pela edição de 2018!

Fotos: Flavors & Senses 

Nota
Estivemos na Casa de Chá da Boa Nova a convite da Nespresso, sendo que isso em nada altera o nosso trabalho cuja opinião e o texto são da exclusiva responsabilidade do seu autor. 

 

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