Como já havia dito noutros artigos, a cozinha Checa não goza de grande fama Internacional, seja pelas suas técnicas tradicionais de confecção ou pelo uso de ingredientes mais pesados na composição dos seus pratos. Combater esse paradigma tem sido o desafio das novas gerações de Chefs e Restauranteurs de Praga. Um desses Restauranteurs é Sanjiv Suri, um empresário de origem Indiana que tem marcado a cidade com os seus restaurantes.
O seu ex-líbris é este Bellevue, localizado num antigo palácio concebido em Art Nouveau em que a vista estonteante sobre a Ponte Carlos e o Castelo de Praga dão sentido ao nome do restaurante.
Já no interior, somos calorosamente recebidos e guiados até uma das pequenas salas do restaurante, elegantemente decorado com detalhes mais contemporâneos, onde se destacam os lindíssimos candeeiros (maus para as fotografias, mas lindos), criando um bom ambiente cosmopolita em contraste com a vista sobre os pontos mais clássicos de Praga.
Já na mesa (ampla e com a distância correta para as restantes mesas), somos recebidos com um brinde de Bollinger Special Cuvée, um Champanhe de ótimo nível que acompanhou o Amuse Bouche, um reconfortante Creme de abóbora com ravioli de ricotta, pinhões e óleo de trufa, onde se revelou a forte influência dos sabores italianos e franceses na cozinha do restaurante – um bom início de refeição para um menu Outonal numa noite bastante fria.
Seguiu-se o pão, onde se destacava a ótima foccacia, húmida e acabada de sair do forno, boa manteiga e azeite.
Terrina de Foie Gras de Pato, pato fumado, hibiscos e citrinos
Um prato de matriz bem francesa, nos ingredientes e na apresentação, com uma terrina bem preparada, servida na temperatura certa e a funcionar bem com as notas mais ácidas dos citrinos e a textura e sabor do pato fumado. O molho de hibisco deu alguma doçura e ligou bem os elementos. A acompanhar um bom brioche.
No copo, a companhia para este Foie não podia ser mais clássica, um Sauternes, Château Closiot de 2010. Um vinho elegante e complexo, com aromas de flores brancas, casca de laranja e especiarias que ligaram perfeitamente com o prato.
Vieiras, puré de ervilhas, couve flor, romanesco e espuma de parmesão
Confesso que não sou fã da ligação entre queijo e produtos do mar, mas volta e meia sou surpreendido por algumas excepções que fazem a regra. Esta foi uma dessas excepções, com a leve espuma de parmesão a dar alguma complexidade ao prato de sabores suaves. Bem cozinhadas as vieiras, assim como o puré de ervilha e a couve flor e romanesco que deram textura ao prato. Muito Bom!
A harmonizar esteve muito bem um Chardonnay da República Checa, Mystery de 2013 do produtor Zapletal. Um vinho elegantemente marcado pela madeira, com notas doces e torradas.
Robalo, Esmagada de batata com ervas , bok choi e vouloté de alcaparras
Um prato que me encheu as medidas, com o peixe de pele crocante e carne suculenta a ser muito bem acompanhado pelas notas mais ácidas e amargas do vouloté, onde se destaca o limão, a anchova e as alcaparras. Boa também a frescura do funcho e do rabanete, assim como a bok choi (couve asiática) e a esmagada que trouxeram mais substância ao prato.
Para acompanhar, um copo de Gruner Veltliner 2014 de Ernst Fink. Um vinho com as características típicas da casta, harmonioso e com um final longo.
Sela de Veado Checo, foie gras, couve lombarda e tupinambo
Para prato principal, uma das mais apreciadas carnes de Caça da Rep. Checa, o veado, num prato verdadeiramente outonal. Excelente a cocção da carne e do foie, e boa a ligação com o o puré de tupinambo e o salteado de couves. O único ponto menos positivo foi o molho, à base de redução de vinho tinto e rosa rubiginosa, que dada a quantidade e força se sobrepõe um pouco aos restantes elementos.
No copo um Zweigeltrebe 2013 do pequeno produtor Milan Sùkal, cujo corpo e estrutura funcionaram bem com o prato.
Seguiu-se um limpa palato à base de Abacaxi, sorbet de bergamota e espuma de lichia. Uma pré sobremesa cuja frescura e leve acidez funcionaram muito bem para quebrar com os sabores mais fortes e untuosos do prato anterior.
Brûlée de Baileys, frutos tropicais
Para finalizar, uma sobremesa clássica e aparentemente simples, que no entanto se revelou um dos melhores Brûlées que já provei, não só pelo sabor bem conseguido com uma leve junção do baileys, mas muito em especial pela sua textura verdadeiramente sedosa. A acompanhar o doce, um conjunto de frutos (abacaxi, manga, papaia, maracujá e romã) que deram frescura ao prato. Um grande final!
A harmonização foi mais uma vez clássica e bem conseguida com um Monbazillac de 2011 do Chateau Castel La Pèze.
Tendo feito a harmonização com vinhos do menu de degustação acabamos por não ver a carta de vinhos, mas a julgar pela garrafeira exposta na sala, a carta é extensa com foco nos vinhos do velho mundo em especial os locais e uma vasta lista de vinhos franceses.
O Serviço decorreu muito bem, formal quanto baste, com uma equipa bem preparada, genuinamente simpática (não costuma ser norma em Praga) e com um inglês perfeito.
Considerações Finais
O Bellevue é um restaurante de cariz internacional, que agrada não só aos turistas que procuram uma boa mesa em Praga como aos locais que preenchiam o restaurante na noite da nossa visita. A cozinha apresenta criações de base clássica com bom domínio técnico e excelentes ingredientes. Pratos cheios de sabor e um excelente serviço fazem deste um dos melhores restaurantes da cidade – isto para introduzir o cliché da vista. Se o Guia Vermelho estiver a pensar reforçar o número de estrelas em Praga, o Bellevue estará certamente na linha da frente.
Bellevue
Smetanovo nábř. 18 – Praga
+420 222 221 443
bellevue@zatisigroup.cz
Fotos: Flavors & Senses com a Sony A7S
Nota
Estivemos no Bellevue a convite do grupo Zátiší, sendo que isso em nada altera o nosso trabalho cuja opinião e o texto são da exclusiva responsabilidade do seu autor.