Falar do São Gião é invocar o lado religioso da gastronomia, 1º rumar a Moreira de Cónegos é como que uma peregrinação (confesso que prefiro bem mais este tipo de sacrifício), 2º as mãos e os ingredientes de Pedro Nunes são obra do divino.
Chegar ao restaurante não é das tarefas mais difíceis, um bom GPS, ou um amigo fã de futebol facilmente nos indica o estádio do Moreirense, já o São Gião é um pouco mais difícil de encontrar à 1ª passagem, mas fica ali bem em frente ao Parque de estacionamento do Estádio, numa casa com ares de moradia privada e sem grande identificação.
Passando a pesada porta de madeira tudo muda, o espaço é amplo e bem iluminado, fruto das grandes janelas que rodeiam toda a sala e nos colocam os campos verdes da região como pano de fundo.
A decoração é simples, com apontamentos clássicos e modernos mas minimalista, tendo nos copos de água coloridos a sua principal extravagância, as mesas são espaçosas e bem distribuídas permitindo alguma privacidade e direito de conversa mesmo com a sala cheia.
Já bem instalados, começamos pelo couvert (2,5€), que se viria a revelar o momento menos feliz da refeição, muito por culpa do pão, cuja qualidade não deixa saudade, acompanhado por azeite.
Terrina de Fígados de Ganso (10€)
A carta do São Gião muda quase diariamente, com base nas emoções de Pedro Nunes e nos melhores ingredientes que vai recebendo na sua casa. Tivemos a sorte de poder provar o seu mi-cuit de Foie Gras, e perdoem-me os acérrimos senhores da PETA, mas foi das melhores Terrinas que já provei em Portugal. Textura certíssima, sabor forte mas delicado, servido à temperatura correta (falha tantas vezes), muito bem acompanhados por tostas finas e uma compota de framboesa, cujo doce e a acidez funcionaram muito bem com a terrina.
Omeleta de camarão (12€)
É verdadeiramente difícil encontrar uma omelette bem feita por estas bandas, ora estão queimadas e com o interior seco, ora sabem a óleo sem qualquer pitada de manteiga. No S. Gião são um clássico pelo que decidimos partilhar uma como entrada. Se por fora tinha algumas zonas ligeiramente queimadas, o interior compensou a falha do excesso de temperatura, cremoso e ainda ligeiramente líquido com o tempero certo e camarões no ponto e na quantidade certa. Não fosse o exterior e estaria perfeita!
Peixe Galo Frito, Açorda de milharas (21€)
Porque estamos no Minho as doses são fartas e dariam plenamente para partilhar, mas como não se faz esta peregrinação todos os dias optamos por ser um tanto ou quanto egoístas. As postas de Peixe Galo (de porte considerável) foram fritas de forma exímia, sem excessos de gordura, com uma polme bem crocante e o interior ainda húmido. Um peixe absolutamente delicioso e muito bem acompanhado pela saborosa açorda de milharas, bem temperada e com quantidade certa de ovas, estava apenas um pouco líquida demais para o meu gosto, tendo em conta que gosto da açorda com um pouco mais de consistência e cremosidade.
Empada de Carnes Variadas (18€)
Uma deliciosa e reconfortante empada, com as carnes que viajavam entre o frango e a caça ainda húmidas e suculentas. Um prato forte, repleto de sabor, aumentado ainda pelo excelente gratin de batata que o acompanhava e os legumes muito bem assados. Mais um excelente momento.
Ir ao Minho e não comer o mais importante dos pudins nacionais nunca seria visto com bons olhos, logo, foi a primeira sobremesa a ser escolhida. E em boa altura o fizemos, consistência perfeita, com as marcas características de um bom abade de priscos, com as notas do toucinho e do vinho do Porto a fazerem-se sentir. Doce quanto baste para uma refeição já longa e pesada.
Um folhado feito à base de camadas crocantes de uma massa tipo filo, recheadas com uma boa compota de Mirtilos. Uma sobremesa simples mas com um bom jogo de textura e temperaturas a conjugar muito bem o quente e o doce do folhado com o gelado de frutos vermelhos.
A carta de vinhos apresenta as principais referências nacionais, ou não fosse o próprio Pedro Nunes um afamado enófilo, com preços sensatos. Acompanhamos a refeição com um Branco Duas Quintas de 2013 da Ramos Pinto (17,5€), que se comportou de forma muito competente com os pratos escolhidos.
Além da carta e das mãos do Chefe, o serviço de sala é outra das mais valias do São Gião, funcionários competentes, com gosto por aquilo que estão a fazer, mesclando muito bem o profissionalismo e o detalhe do serviço clássico com a abertura e descontração de espaços mais modernos.
Considerações Finais
Pedro Nunes é garantidamente um nome de destaque entre os seus pares, principalmente pela mestria com que combina a tradição Portuguesa com a técnica Francesa e apontamentos mais irreverentes, sendo fácil encontrar na sua carta tanto o seu famoso cabrito assado como um risotto de ostras ou uma terrina de foie, como a que referimos em cima.
No que diz respeito à nossa refeição, não fosse a qualidade do couvert estar abaixo do expectável e a omelete ter o exterior ligeiramente queimado e tudo teria estado perfeito. Grande qualidade de ingredientes e boa qualidade técnica que fazem deste um dos mais interessantes restaurantes do Norte e do País. Um espaço que de facto merece todas as romarias e peregrinações e do qual me confesso devoto! Agora resta rezar para que na próxima excursão religiosa haja carabineiros na carta!
Nota: Já depois desta visita o restaurante São Gião foi eleito pelos votantes dos prémios “Flavors & Senses – Os Melhores para 2015” como o vencedor na categoria Restaurante Fora de Portas (ver)
Os inúmeros prémios do São Gião
Restaurante São Gião
Avenida Comendador Joaquim de Almeida Freitas, 56 Moreira de Cónegos
253 561 853
Fotos: Flavors & Senses
As tuas descrições dos pratos nos teus posts são excelentes João!
Parabéns!
Muito obrigado Rita! Fico muito feliz em ouvir isso.
Beijinhos,
João