O Portarossa nasceu em 2013, no espaço onde outrora viveu o Corte Real, pela mão do inevitável Vasco Mourão e de Gonçalo Correia dos Santos. Nada foi deixado ao acaso, a decoração a cargo de Artur Miranda e Jacques Bec (Oitoemponto), criou uma atmosfera única, tornando-o num dos mais elegantes e bem decorados espaços da região. O conceito é de cozinha italiana, centrando-se muito nas Pizzas e no seu forno a lenha, e é certamente o italiano mais bonito da cidade, sem os habituais e horríveis clichés da decoração dos “nossos italianos”. A aposta deve-se certamente ao desejo antigo de Vasco Mourão de chegar a um público mais jovem que o do Cafeína ou do Terra, e foi bem sucedida. Hoje, é uma das casas mais badaladas da cidade, onde é difícil conseguir mesa, mesmo na esplanada em dia de chuva. Foi também por isso eleito pelos nossos jurados o Restaurante Trendy, nos prémios “Flavors & Senses – Os Melhores para 2014”.(ver)
Como tem vindo a ser habitual nos projetos de Vasco Mourão, a cozinha ficou a cargo do chileno Camilo Jaña, que tendo pouco de italiano (talvez o feitio, quem sabe), mostra a sua capacidade de trabalho, adaptação e rigor.
Nesta visita, começamos pelo habitual couvert (1,80€), uma simples mas correta pasta de azeitona, pão de qualidade, bom azeite, azeitonas e grissinis. Ao que se seguiu uma panóplia de entradas.
Mexilhões gratinados com pimentos (8€)
Confesso que normalmente não fico agradado com a mistura de queijo com marisco, mas por vezes tenho de dar algumas excepções à regra. Esta foi uma dessas vezes, com o mexilhão fresco, preparado no ponto certo, com todos os elementos a combinarem entre si sem que nenhum se sobrepusesse ao delicado sabor do bivalve. Excelente início.
Sfilatino de Cogumelos trufados (5,5€)
Um rolo de massa de pizza, recheado com cogumelos e queijo mozzarella com um leve toque de azeite de trufa. Uma entrada quente e reconfortante, onde a untuosidade do queijo e o sabor dos cogumelos funcionou bem.
Focaccia de Liguiça, com ovos de codorniz e grelos (4,5€)
Não é certamente uma focaccia mas sim uma pequena pizza, mas perdoa-se o nome pelo bem que sabe. A junção da melhor linguiça do Porto (reconhece-se a léguas), com os grelos e os ovos de codorniz, não poderia ser mais certeira, num prato que combina e muito bem a cozinha italiana com sabores bem lusos. Excelente.
Marguerita DOP, mozzarella fresco e tomate san marzano (11€)
Já visitamos o Portarossa desde os seus primeiros tempos, e posso facilmente dizer que hoje a sua base está melhor do que nunca, assim como a técnica no forno. Isso é bem patente nesta simples pizza, com a base bem crocante, mesmo no centro, em que foram colocados ingredientes com bastante líquido, como os tomates e o queijo mozzarella (cozinhado na perfeição, sem perder as suas características e textura). Uma combinação de sabores clássica, onde apenas a técnica poderia ter falhado, mas não foi o caso. Grande Pizza.
Calzone, mozzarella, cogumelos, fiambre, espinafres e ovo (11€)
A clássica pizza fechada, com a massa bem cozinhada tanto por cima como por baixo, interior cremoso graças à gema e ao queijo, e muito bem acompanhada pela habitual salada de Camilo Jaña ( com mistura de alfaces, cebola roxa, tomate seco). Uma boa pizza.
Fettucine com mexilhões e açafrão (14,5€)
E porque nem só de pizzas e do forno a lenha vive o restaurante, a carta de massas tem algumas opções irresistíveis, como este fettuccine, cozinhado no ponto e envolvido num saboroso molho de natas com açafrão (das índias?) e um leve toque de pimento. Muito, muito bom.
Fettuccine com Manteiga de Trufas e Foie gras (15,5€)
O prato tem tanto de bom como de pecaminoso. A gordura do Foie a envolver-se com a massa bem preparada é deliciosa. Apenas a textura do foie não me convenceu totalmente, mas o sabor compensou, enquanto desejava umas lâminas de trufas como cereja no topo do bolo. Um prato diferente que se tornará certamente num dos ícones da casa.
Panna Cotta de baunilha com frutos silvestres (4€)
Confesso que raramente dou o braço a torcer por uma panna cotta, quase sempre com excesso de gelatina e sem sabor. Opto pela minha, caseira que dificilmente é batida, a não ser por esta do Portarossa, textura fantástica ( quase diria que nem leva gelatina), baunilha verdadeira e espalhada por todo o doce. Quando o mais simples se torna perfeito, tudo fica bem e os frutos silvestres acabam por ser apenas um bom adorno. Só é pena que a porção não tenha o dobro do tamanho.
A carta de vinhos do Portarossa é única, não só pelas referências presentes (raras para uma pizzeria), mas pela forma como os vinhos estão distribuídos, por preço, Low Cost (9€), Value For Money (19€), Premium (29€), Super Premium ( 39€), Special One, Sparkling, Sangrias e Cocktails, sendo um dos poucos sítios no Porto onde é possivel beber um Spritz. Acabamos por acompanhar a refeição com um sempre simpático Kopke Tinto 2011 da categoria Low Cost.
O Serviço, e baseado não apenas numa, mas em várias visitas ao espaço, é jovem e super simpático, numa equipa desnivelada, com elementos muito bons e outros visivelmente inexperientes. Ainda assim, o serviço flui muito bem, sem erros dignos de destaque podendo atingir o ponto de ebulição nas noites de fim de semana em que Foz e mais meio mundo ruma ao pequeno restaurante ( não será certamente fácil de gerir).
Considerações Finais
O Portarossa é hoje, e em apenas um ano de existência, uma das principais referências italianas e não só, o espaço não vale apenas pelas suas pizzas saborosas, é um sitio em que vale a pena estar, a decoração é de grande elegância e o serviço, com um ou outro erro consegue acompanhar bem a qualidade do espaço e da cozinha. Falando em cozinha, Camilo Jaña preparou uma excelente e bem estruturada carta, com aposta nos clássicos dos quais é impossível fugir e noutras opções de grande criatividade ( recordo por exemplo um carpaccio de lírio, ou a desaparecida pizza à moda do Porto com sardinha e pimentos que me deixa grande recordação e saudade). É certo que nas noites de final de semana pode ser caótico, pela lotação e pouco espaço, mas a semana é grande e o restaurante nunca fecha. Ao almoço existe uma opção diária a 12 € com entrada, prato e bebida, já ao fim de semana assam um tradicional cabrito transmontano em Forno a lenha. O Portarossa é mais um sucesso de Vasco Mourão e do seu sócio Gonçalo Correia dos Santos, não só na teoria, mas também na prática, sendo hoje o meu italiano preferido na cidade.
Portarossa
Rua Côrte Real, 289 Foz do Douro – Porto
+351 226 175 286