Luca’s by Paulo Airaudo

Criado para ser o porta-estandarte do Hotel La Gemma, o Luca´s presta homenagem ao patriarca da família Cecchi que infelizmente não pode acompanhar a famíla na sua entrada no ramo hoteleiro.

Com o objectivo de trazer até Florença um toque internacional e de sofisticação, algo raro na cidade, uniram esforços com Paulo Airaudo, o chef Argentino a que já ninguém fica indiferente. Com o Passaporte bem preenchido, e passagens pelo México, Peru, foi na Europa, mais propriamento no The Fat Duck (Inglaterra), Arzak (San Sebastián) e Magnolia (Itália) que ganhou a base para conquistar a sua primeira estrela na Suiça.

Apesar da juventude, Paulo nasceu apenas em 1985, o seu espírito empreendedor e disruptivo, levou-o de novo a San Sebastián, onde hoje comanda o Amelia com duas estrelas Michelin – considerado por muitos o mais interessante restaurante da cidade basca – bem como muitos outros projectos de restauração. Com restaurantes em Barcelona, onde conta com uma estrela no Aleia, em Bogotá, Hong Kong, Inglaterra e, claro…. agora também na cidade das artes com a sua cozinha de matriz italiana.

O Luca’s respira Art Deco, num ambiente de elegância extrema completamente ligado ao design do hotel.

É facil entrar na sala de tons esmeralda e deixarmo-nos levar por uma certa coolness e imaginar que a sala cheia seria certamente o cenário perfeito para um festim dos jovens irmãos Cecchi, repletos de boa comida, moda e champagne, muito champagne!

Já confortavelmente instalados, tudo na mesa respira fine dining embora a pretensão seja mais de bons momentos e diversão, a qualidade das louças, os tecidos e a própria equipa deixam antever ao que vamos.

Amuse Buches – cornetto de mortadella e tartelette de lavagante e straciatella

Começamos com uma série de amuse buches, bem executados, com contraste de texturas, sabores leves e elegantes que prepararam bem o palato para o menu. O destaque vai claramente para caldo de alcachofras com notas de baunilha servido ao início e que nos reconforta e,claro, a Ostra com caviar e molho de champagne, que nos levou pra bem longe do centro da toscana. Obviamente, tudo foi muito bem depurado por um espumante Franciacorta Marchese Antinori Cuvée Royale.

Ostra e caviar

Seguiram-se ótimos grissini artesanais, como é apanágio dos restaurantes gastronómicos italianos, e um sourdough bem executado que é como uma benção ao lado do deslavado pão toscano habitual.

Lírio, nabo, água de tomate e ume kosho
Para dar início aos pratos, uma belíssima flor de Lírio e Nabo, numa reinterpretação do crudo italino, que nos traz notas de um casamento perfeito entre o Japão e a Itália. Delicioso o contraste entre a pasta picante e doce de ameixa, com a frescura do nabo e da água com a gordura e delicadeza do peixe.

Tortelli, lingueirão e molho de vin jeune
Um clássico toscana – raviolo de batata – servido com a magia de uma cozinha de autor. Sabores e texturas brilhantes, com um ótimo toque de mar a equilibrar a riqueza e untuosidade do molho. Poderia passar todo o jantar a comer isto!

A harmonizar esteve um Pinot Grigio Bottega Vinai 2022, ainda muito jovem, mas fresco e com uma agradável acidez para ligar com os pratos.

Tamboril, bagna càuda, amêijoas, batata e acelgas
O prato principal levou-nos para um tamboril cozinhado em duas etapas, mas que resultou mais seco do que pretendia. Nota positiva para os acomapanhamentos, nomeadamenta a bagna càuda modernizada pelas ervas e as ovas de truta, e a combinação dos sabores mais térreos com as notas de mar. Poderia ter sido um belíssimo prato!

Para não cairmos na rotina do peixe/vinho branco, optou-se por um Pinot Noir de 2020 Bourgogne “Maison Dieu” do Domaine de Bellene . Um Tinto leve de aroma fácil e corpo curto, que limpou facilmente o molho sem se sobrepor em algum momento ao prato.

Flan de Cabraameixa, crocante de mel e aveia
Onde poderiamos pensar numa panna cotta, surge um flan de cabra de consistência sedosa e sabor delicado, muito bem combinada com os sabores doces e levemente ácidos da ameixa e o crocante de mel e aveia.

Um simples mas encantador final!

Para a sobremesa e em jeito de digestivo provou-se, não um, mas sim dois licores, um François Peyrot de Pera e Cognac e um Amaro Naturale. Duas bebidas muito distintas mas que cumpriram muito a sua missão, cada uma no seu estilo.

Os Petit four com um irresístivel Canelé, um Pâté de fruit gianduja e framboesa.

O serviço decorreu sem falhas, com um cuidado especial com a nossa toddler e as suas necessidades – o que muitas vezes pode ser visto como um entrave ao serviço, foi ultrapassado com facilidade, haja vontade e uma boa dose de simpatia!

Olivia Cappelletti e Tommaso Querini comandam a cozinha do Luca’s

Considerações Finais

Paulo Airaudo e a sua equipa liderada por Olivia Cappelletti, tem aqui em mãos um diamante em bruto com localização, decoração, bar e uma áurea de romance antigo ao bom jeito dos anos 20, que nos cativa ao primeiro contacto. A proposta gastronómica assente num pequeno menu onde se privilegia a degustação, com o objectivo de perceber todas as influências e nuances desta cozinha “italiana”. Sugiro que optem pelo menu mais longo, sendo que em termos de quantidade o menu de 4 pratos nos pareceu um pouco curto (por mim ainda estaria agora a comer Tortellis!). Apesar disso, o menu é seguro, sem grandes riscos, acredito que não seja esse o objectivo, com a cozinha de conforto a ganhar uma roupagem distinta e internacional.

Olhando a isso e conjugando as sensações que o espaço nos transmite com a estética do hotel e o percurso da família Cecchi, este Luca’s tem tudo para se tornar numa espécie de Costes em jeito italiano, ainda que aqui haja um carácter mais gastronómico.

Antevejo, assim, um bom futuro, repleto de uma clientela agitada e internacional que promete mexer com o classicismo fiorentino.

Preços a partir de 100€ (sem vinhos)
Hotel La Gemmma
Via dei Cavalieri 2c, 50123 – Florença

 

Fotos: Flavors & Senses
Textos: João Oliveira
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