A história da Casa Inês é recente, nasceu em 2012 depois de uma dissidência entre os herdeiros da mítica Casa Aleixo junto à estação de Campanhã.
Se o pai Ramiro há 50 anos tornara famosos os filetes de pescada (que diariamente escolhia na Póvoa do Varzim) e os filetes de polvo acompanhados de arroz de polvo, foi Inês que depois da sua morte assegurou que as receitas do pai e a tradição de família não passariam em falso, da sala do Aleixo passou para a cozinha e de mangas arregaçadas continuou a cozinhar da mesma forma que sempre viu o pai trabalhar.
Um trabalho árduo na defesa da tradição que hoje, volvidos uns 40 anos, continua a laborar, só mudou o número da porta e, claro, o nome, 1º Inês do Aleixo e depois Casa Inês, mantendo-se fiel à mal tratada região de Campanhã, a dois passos da estação que outrora ligava o Porto ao mundo.
E é desta forma que nos sentimos quando entramos no seu restaurante, em casa! Saudações calorosas e uma simpatia única das gentes do norte, Germano (o marido de Inês) é o cicerone, habituado a ler os clientes e as suas vontades, pelo que já na mesa, a carta é quase desnecessária.
Da decoração não há muito a dizer, é o típico restaurante tradicional da cidade do Porto, com as suas paredes de granito e cadeiras de madeira, com imagens antigas da cidade a preencher as paredes, mas bom, ninguém entra aqui pelo glamour ou cosmopolitismo.
Bolinhas de Alheira, agridoce de abóbora
Depois de uma boa broa de Avintes, chegaram à mesa as entradas. Começando por estas bolinhas de alheira, um formato pouco tradicional de vender a alheira e que se será certamente o prato mais “moderno” do cardápio da Inês. Fritura irrepreensível e recheio delicado, numa boa combinação com o agridoce (ainda que este pudesse ser um pouco mais intenso). Um Bom presságio para o que se iria seguir!
Bolinhos de Bacalhau, salada de feijão frade
Este é um dos meus pratos de conforto favoritos, pena que hoje seja tão difícil comer bons bolinhos de bacalhau nas mesas portuguesas (para não falar dos crimes que se cometem num badalado local da capital). Mas isso não acontece na Casa Inês, bolinhos pequenos e bem fritos, fofos e leves, com a proporção certa entre batata e bacalhau. A salada estava também no ponto, com o vinagre certeiro.
Petingas de Escabeche
Um clássico delicioso que dá vontade de comer sem parar enquanto o pão vai limpando o molho do prato. Texturas correctas e o bom sabor dos pimentos e cebola a sobressair. No vinagre, o molho estava certeiro para 99% dos comensais, no meu caso podia estar ainda mais vivo.
Filete Polvo com arroz de polvo (15€)
Passando ao primeiro prato, surge na mesa o afamado filete de polvo. Aqui vemos mais uma vez a forma como Inês e a sua equipa dominam impecavelmente a fritura, com um polme dourado sem vestígios de óleo. Polvo tenro e de excelente qualidade, acompanhado por um arroz solto feito com a água de cozedura do polvo e os seus pequenos tentáculos. Muitos gostariam de ver um arroz malandro a acompanhar o filete, mas aqui é assim e vai continuar a ser, para meu gáudio, é certo! Perfeito!
Vitela Assada, batata assada, grelos e arroz branco (16€)
Se é condição Sine qua non a técnica de fritura roça a perfeição, parece que o domínio das temperaturas do forno não lhe fica muito atrás, a vitela estava irrepreensível, cheia de sabor, suculenta e tão tenra que se poderia comer à colher (e não, não era bochecha).
Rabanada e Aletria
Se até aqui há clientes que, por um ou outro motivo (até mesmo insatisfação crónica), ainda não estavam convencidos da qualidade da Casa Inês, chegada a Aletria qualquer um é levado aos céus! Cremosa, com ovo na medida certa e sem excessos de açúcar, com a massa no ponto. Sem dúvida a melhor que já comi fora de casa (provavelmente em casa também, mas gosto sempre de me considerar um bom cozinheiro!).
Com a rabanada voltamos à Terra, com uma capa crocante e um interior húmido cheio de pecado e sabor.
Pois é, na Casa Inês é Natal todos os dias!
O Serviço é adequado ao espaço, com uma delicadeza e genuinidade que nos fazem sentir em casa e em família enquanto nos regalamos com boa comida de conforto.
Considerações Finais
A Casa Inês foi um dos justos nomeados para Restaurante Tradicional nos Prémios “Flavors & Senses – Os Melhores para 2015”, fazendo valer muito mais do que esse título ao longo dos anos de trabalho. A forma quase Asiática com que se dedica a fazer, diariamente, meia dúzia de pratos fazem com que os domine como ninguém, das cozeduras à fritura, passando pelo forno e, claro, a qualidade dos produtos, tudo é executado ao detalhe. É certo que não é um restaurante acessível ou para frequentar todos os dias (a balança não permite!), mas aqui não se paga só um prato, paga-se uma vida de entrega a uma tradição, história e ingredientes de excelente qualidade. E isso, tendo em conta o actual panorama da restauração, é raro, muito raro!
Esta é, sem dúvida, uma das casas imperdíveis para quem quer “comer o Porto”!
Casa Inês
Rua de Miraflor, 20 – Porto
225 106 988
casaines.restaurante@gmail.com
Fotos: Flavors & Senses
Nota
A Refeição descrita foi oferecida pelo Casa Inês, sendo que isso em nada altera o nosso trabalho cuja opinião e o texto são da exclusiva responsabilidade do seu autor.
Gosto muito de acompanhar o vosso blog mas o facto de todas as críticas que fazem serrem baseadas em ofertas por parte dos locais que visitam, diminui o grau de distanciamento que é possível terem. Só pagando todas as visitas efectuadas aos locais, é possível fazerem uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
É a minha opinião. Espero que seja construtiva e que vos ajude a melhor ainda mais e a serem uma referencia.
Luis,
Agradeço o seu comentário e a atenção que dispensa ao nosso trabalho, no entanto não está de todo bem informado, pois provavelmente 90% dos restaurantes publicados foram pagos por nós. A grande diferença entre nós e a maioria das publicações é que nós dizemos quando algo não é pago, seja a convite ou simplesmente porque alguém nos reconhece e não nos deixa pagar. Quanto ao distanciamento concordaria consigo se esta fosse uma forma de ganhar a vida e o nosso dia a dia dependesse dos apoios, patrocínios ou de restaurantes, mas não o é!
Por outro lado, não sou um crítico, não avalio, não dou estrelas nem notas, formo uma opinião que é minha, com conhecimento de causa e muito estudo, e que felizmente tem servido como referência a um número cada vez mais alargado de pessoas.
Mas quanto ao trabalho que fazemos, gostava que pensasse que me seria muito mais fácil eliminar a alínea “nota” dos artigos (à semelhança de muitos blogs, jornais e revistas), no entanto e por me considerar ético e digno, acho que isso deve estar presente para os leitores. Além disso, se for ver todos esses artigos “a convite” irá verificar que nem sempre os pratos recebem boas opiniões, porque como digo na nota, a opinião é exclusivamente da minha responsabilidade, e quem convida também fica a saber isso muito bem.
Seguimos na esperança de também podermos vir a ser uma referência para si!
Um abraço,
João