Há anos que conheço a Casa Agrícola, um espaço do Porto rural recuperado e ainda com alguma traça original. Em jovem frequentava o bar, que antes da movida da baixa portuense era um ponto de encontro habitual, no entanto, desconhecia o restaurante. Nos últimos anos, e tendo trocado mais bares por restaurantes e afins, sempre tive grandes reticências em visitá-lo, fosse por ideias pré-concebidas sobre o conceito restaurante/bar, 6º sentido ou simplesmente porque sim.
Recentemente e aproveitando um jantar com amigos após alguma dificuldade em encontrar o restaurante pretendido (semana de Restaurant Week), lá decidimos deixar a Casa Agrícola mostrar o seu trabalho. O restaurante mantêm a linha decorativa do bar com um pouco mais de requinte, mesas amplas e bem dispostas pela sala. Começamos a refeição pelo pão (o,70€ p.p), simples que se viria a revelar caro faça à mísera quantidade apresentada, azeitonas (1,20€) temperadas e um modesto e escasso paté de atum (1,30€).
Tarte de queijo Chèvre, doce de tomate (8,25€)
O folhado, a fazer lembrar um clássico do Cafeína, estava bem preparado, com a massa bem cozinhada e estaladiça. O doce de tomate acompanhou muito bem o queijo, já a alface e o que fazia no prato era desnecessária, ainda que fosse importante a presença de uma boa salada.
Cogumelos recheados de Camembert e alho-francês (7,60€)
Alho francês e queijo bem integrados numa simpática entrada de cogumelos que mereciam ser apresentados com menos da sua água, e mais uma vez a salada merecia ser melhor.
Beringela gratinada com queijo mozzarella (5,45€)
Um prato tipicamente italiano, com a beringela no ponto e bons acompanhantes. O problema acaba por ser o excesso de queijo que se sobrepôs a tudo o resto presente no prato. Less is more.
Camarão frito com alho (7,75€)
Um saboroso e bem preparado molho levemente picante e de intenso sabor a alho como dizia no menu, o problema em si estava na boa dose de camarão que cozinhou demais ficando duro e seco.
Vieiras grelhadas, risotto de tomilho (17,5€)
Excelente o risotto, algo raro pela cidade, bem cremoso, cozinhado no ponto e com bom sabor. As vieiras por seu lado não vislumbraram a melhor técnica de coação, ficando umas mais para o lado da borracha, e sem grande apelo visual, não fosse a presença do coral.
Tornedó de porco preto, queijo da Serra e Porto (16,5€)
A ideia por detrás deste prato está bem conseguida, os elementos são bons, com sabores intensos que se ligam bem, o problema deste prato foi a técnica. Um Tornedó não são 3 pequenos pedaços de porco, o porco não tem de ser ultra cozinhado, o molho não se deve sobrepor a todos os restantes elementos mas sim ligá-los, e o queijo deve fazer-se sentir. Bem feita estava a Dauphinoise com cogumelos que acompanhava o prato.
Tarte de chocolate branco com frutos silvestres (4,35€)
Começo por dizer que é a sobremesa ideal para as pessoas a quem a doçura excessiva é um mimo, o que acontece é que não é o meu caso. Uma camada densa de bolacha, um creme forte de chocolate branco e leite condensado e um bom doce de frutos vermelhos. Falta-lhe o elemento ácido que o doce não consegue ter para dar algum balanço ao prato.
Bolo de chocolate (3,80€)
Um bolo de chocolate simples, aquecido e sem grande história.
A Carta de vinhos é pequena, mas com opções para todos os bolsos e gostos. Já o seu serviço e copos não está bem de acordo com os preços lucrativos do vinho.
O Serviço de sala funciona calmamente, coordenado mas algo desatento e desleixado.
Considerações Finais
A Casa Agrícola é hoje mais que um bar, é também um restaurante onde não se come verdadeiramente mal, mas onde também não se é feliz, e comer é ser-se feliz. A relação qualidade/preço fica aquém das expectativas, necessitando de trabalhar mais desde a sala aos pratos, da concepção, ingredientes e acima de tudo técnica. Num patamar acima dos 30€ p.p. onde se chega muito facilmente, não é de todo uma das melhores ou mais interessantes opções que o Porto tem para oferecer. No entanto nem tudo corre mal, e a julgar pelos seus visitantes e tripadvisor o problema deve ser meu. Talvez.
Reparo que em muitos restaurantes esses erros são normais. Mais do que uma vez provei cogumelos de entrada demasiado aguados, que quase chego também a pensar que o problema é meu! Não percebo como gostam assim. A folhinha de alface “decorativa” também acaba por ser um pormenor triste, pois eu acho que ou se usa uma erva que realmente complementa o prato, ou uma salada como deve de ser… O excesso de queijo na beringela, bastou olhar para o prato para perceber…
Acho que em muitos “bons” e caros restaurantes há aquele patamar do perfeccionismo e de elevar a fasquia que parece simplesmente não se querer atingir.
Olá Catarina,
Eu acho é que muitos restaurantes se apresentam como algo que simplesmente não são.
Obrigado