Mesquita Azul
Sempre tive uma curiosidade imensa em conhecer Istambul, para isso contribuiu bastante o facto de ao lado de Roma, ter sido uma das cidades mais importantes do mundo, neste caso, enquanto capital do Império do Oriente. Como sabem, sou fascinada por história, por isso este tipo de cidades suscita-me sempre bastante interesse.
Além disso, quem não quer ter os pés na Europa e os olhos na Ásia? Istambul é a única cidade do mundo que ocupa dois continentes!
Pois bem, Istambul superou em muito as minhas expectativas, a cidade é mágica, completamente frenética, mística, misteriosa e que nos consegue seduzir nos mais variadíssimos aspectos.
Conta com cerca de 15 milhões de habitantes, sendo a grande maioria muçulmanos. Mas desenganem-se se acham que isto é motivo para terem medo, os acontecimentos recentes podem levar muitas pessoas a evitar Istambul, por favor não deixem de visitar esta cidade, aliás, posso confessar-vos que me senti bem acarinhada, segura como em qualquer grande capital, e garanto-vos que já temi bem mais enquanto passeava por algumas regiões habitadas por muçulmanos mais ortodoxos em Paris ou Bruxelas do que agora em Istambul!
Istambul é a maior cidade da Turquia e a quinta maior do mundo, assim como uma das mais populosas da Europa, mas ao contrário do que muitos pensam, não é a capital, pelo menos desde 1923, quando passou o título para Ancara. No entanto, Istambul mantém o foco principal quer a nível industrial, empresarial e religioso.
História
Apesar de em 2008, durante obras de construção, terem sido descobertos achados históricos que podem datar Istambul de cerca de 6 500 a.C., aceita-se como válido que a cidade terá sido fundada no século VII a.C..
Inicialmente com o nome de Bizâncio, atribuído pelo Rei de Mégara, Bazis, que através da consulta ao Oráculo de Delfos descobriu estas terras tão incríveis. Lenda ou não, algum fundo de verdade deve ter.
Devido à sua localização idílica, Istambul sempre foi altamente cobiçada, e apesar de nos primórdios o seu desenvolvimento, aparentemente, ter sido lento, já depois de Cristo as coisas agitaram um bocadinho!
Assim, em 196 d.C. a cidade esteve no domínio do Imperador Septimus Severus que ordenou a sua destruição, mas que anos depois a mandou refazer. A cargo deste Imperador está uma das obras mais históricas da cidade, o Hipódromo.
Alguns anos mais tarde, em 330 d.C. reinou um dos mais egocêntricos Imperadores de sempre – Constantino que batizou a cidade de Constantinopla!
Já no poder, foi o responsável pela implementação do Cristianismo, sendo que nessa época mandou erguer a monumental Basílica de Santa Sofia.
Em 395 d. C. com a divisão do Império Romano, tendo Roma como Império do Ocidente e Constantinopla como Império do Oriente, é que a cidade efetivamente prosperou, aumentando de área e de importância. Assim, enquanto Constantinopla crescia, Roma perdia forças e em 476 d.C. Roma ruiu, e esse foi o momento marcante para o apogeu do Império Bizantino, nomeadamente no reinado de Justiniano, de 527 a 565.
Nos séculos seguintes o Império declinou mas já nos séculos IX e X voltou a prosperar. Mas sempre que um local prospera há alguém a querer ocupá-lo! E assim durante a Quarta Cruzada passou a ser dominada pelo Império Latino.
Entretanto, chegou a vez do Império Otomano, os sultões dominaram a partir do século XV e a cidade voltou a crescer imenso, estabelecendo-se uma nova era – a de Istambul governada pelos turcos!
Como podem verificar, Istambul está repleto de séculos e séculos de uma história Fascinante!
Atualmente, é uma cidade vibrante e mágica, que faz fronteira com imensos países, como é o caso da Síria, Irão, Iraque, Arménia, Azerbaijão, Geórgia, Bulgária e Grécia. Talvez por isso, suscite tanto interesse e tanta preocupação ao mesmo tempo.
A cidade é muito simples de visitar, até porque está bem dividida, o que permite ao turista organizar-se de forma a visitar as coisas numa ordem lógica.
Nós estivemos em Istambul cinco dias inteiros, mais dois para a viagem.
Fizemos Porto-Frankfurt-Istambul através da Lufthansa, o que faz com que se gaste praticamente dois dias só em viagens, infelizmente. Chegamos pelo aeroporto de Ataturk no lado europeu da cidade. (Felizmente agora a Turkish Airlines já faz voos diretos entre Istambul e o Porto).
Mas os cinco dias chegaram perfeitamente, claro que quanto mais tempo tivéssemos mais aproveitamos, mas cinco dias são suficientes.
Assim, vamos lá dividir a cidade por zonas de modo a que percebam a forma mais fácil de se orientarem.
Como já vos disse, Istambul é o ponto de encontro entre o ocidente e o oriente, sendo que o Estreito de Bósforo, que liga o Mar Negro ao Mar Mármara que por sua vez está ligado ao Mar Mediterrâneo, é responsável pela separação entre o lado europeu e o asiático. Para se passar dum lado para o outro existem duas grandes pontes, a de Bósforo e a do Conquistador.
O lado asiático é o mais populacional mas o menos visitado, uma vez que é maioritariamente residencial. Por sua vez, o lado europeu é o ponto de visita obrigatória pois é onde se concentram os séculos de história e a energia frenética da cidade. Assim, este é dividido em duas partes por uma espécie de braço de mar chamado Corno de Ouro ou Haliç. Sendo que a principal ligação entre essas duas partes é a Ponte de Gálata.
Assim, a sul do Corno de Ouro temos aquilo a que podemos chamar de zona velha de Istambul, com as regiões históricas de Sultanahmet, Seraglio Point e Bazaar Quarter.
Neste local ainda se podem observar parte das muralhas que circundavam a cidade, e a protegiam. É aqui que ficam o Hipódromo, a Basílica de Santa Sofia, a Mesquita Azul, o Palácio de Topkapi, as Cisternas, o Grand Bazaar, o Bazaar das especiarias e vários museus e mesquitas.
Do outro lado da ponte de Gálata, a Norte do Corno de Ouro, encontramos a zona moderna de Istambul, com o bairro de Beyogli, com a sua movimentada zona de Taksim, mais a sua magnífica avenida Istiklâl Caddesi, diversas praças, comércio de rua, a mítica Torre de Gálata, o imponente Palácio Dolmabahçe, os diferentes museus, e a divertida zona de Besiktas.
O Elétrico em Istiklâl Caddesi
Assim, é bem mais fácil responder à pergunta: O que visitar?
Vamos, então, começar pela zona antiga de Istambul, a que fica a sul do Corno de Ouro.
Felizmente, no dia em que decidimos visitar esta região mais histórica de Istambul, contamos com o apoio do Hakan, um guia profissional da Luxury Istanbul, uma empresa especializada no turismo de luxo na cidade, que organiza desde visitas guiadas personalizadas a passeios de Iate pelo Bósforo.
Depois de bem preparada a nossa chegada por Ugur Ilgar (proprietário da empresa), fomos recebidos por Hakan e o motorista no nosso Hotel, à hora marcada, entre uma e outra pergunta, Hakan foi traçando o melhor plano de visita mediante os nossos gostos pessoais. Adoro descobrir uma cidade com um guia exclusivo, sem fazer parte de grupos e de filas, com os caminhos traçados com base nos meus gostos e por alguém que de facto conhece muito bem a cidade.
Hipódromo
Este local a céu aberto foi uma das obras mais importantes do imperador Septimus Severus, e melhorado significativamente durante o império de Constantino. Este espaço abrigava até 100 mil pessoas e era o ponto fulcral e social da cidade. Aqui reuniam-se milhares de pessoas, para os mais variadíssimos momentos. Infelizmente, foi destruído durante as batalhas da Quarta Cruzada. Mas, ainda assim, é possível imaginar a loucura de outros séculos, as multidões em alvoroço durante as corridas de bigas e quadrigas (carruagens puxadas por dois ou quatro cavalos).
Olhando à volta, naquilo que atualmente é uma belíssima praça, podemos observar alguns marcos da história, como os diferentes obeliscos que eram trazidos pelos diferentes imperadores, estes são verdadeiros marcos de história que nos remetem para uma autêntica viagem ao passado.
Santa Sofia (Ayasofya)
Este é um dos locais mais famosos e fascinantes de Istambul, uma vez que já foi uma igreja, uma mesquita e é atualmente um museu.
Durante muito tempo foi a maior proeza de arquitetura a nível mundial, sendo que só ao fim de quase mil anos foi ultrapassada pela Catedral de Sevilha.
O imenso edifício foi construído sobre duas outras igrejas e inaugurado em 537 sob o império de Justiniano.
Esta obra de arte esplêndida é formada por uma nave central e duas laterais, e tem uma imponente cúpula de quase 60 metros de altura.
Mais tarde, já no século XV, sob o Império Otomano, o sultão Mehmed II ordenou que o edifício fosse convertido numa mesquita. Nessa época foram feitas algumas modificações, como os quatro minaretes e as enormes placas redondas com caligrafia árabe. As imagens bíblicas foram cobertas e só puderam tornar a surgir quando a basílica foi transformada num museu, já em 1931.
O seu interior é impressionante, e ver imagens cristãs a rivalizaram com escrituras islâmicas é incrível!
Entrada: 30Lt
Cisterna da Basílica ( Yerebatan Sarayı )
É uma das visitas mais curiosas e interessantes da cidade, pois tem um ambiente místico, envolvente, e nada comum.
As cisternas tinha como função armazenar e abastecer a cidade com água. Esta construção foi feita durante o Império Bizantino em 532 e usada até a queda de Constantinopla.
336 colunas romanas estendem-se naquele que é um magnífico espetáculo de meia-luz em tons alaranjados e reflexos de água.
As duas colunas mais interessantes têm cabeças de Medusa, uma delas está de cabeça para baixo e a outra inclinada, e o que estão aqui a fazer as cabeças de Medusa? Ninguém sabe!
Entrada: 20Lt
A Mesquita Azul vista de Santa Sofia
Mesquita Azul
Esta imponente obra de arte foi mandada construir em 1609 pelo Sultão Ahmed I e a sua beleza é imensa, sendo um dos principais cartões postais da cidade. Vários duomos descem em cascata a partir de um imenso duomo central. Esta mesquita tem uma particularidade que a transforma em única, possui seis minaretes. Na altura isso foi um grande problema, pois a única com seis minaretes era a de Meca e nenhuma outra poderia igualá-la. Assim, o sultão Ahmet I financiou a construção do sétimo minarete na mesquita de Meca!
O seu interior é lindíssimo e monumental, as paredes contêm milhares de azulejos e vitrais em tons azuis, daí o nome da mesquita.
Para entrar nesta mesquita e em todas as outras existem algumas normas de respeito, como tirar os sapatos e cobrir a cabeça.
Outra particularidade que para mim foi interessante foram as 5 chamadas feitas ao dia para oração. Este canto chama-se Muezim e é entoado nos altifalantes dos minaretes que tem como função avisar o povo muçulmano do horário da oração. Já me estava a habituar a ouvir aquele som ao longo do dia enquanto passeava pela cidade. Durante esses períodos não se pode entrar na mesquita.
Entrada: gratuita
Palácio Topkapi
Foi construído por Mehmed II logo após a conquista de Constantinopla em 1453 e foi a residência de Sultões por três séculos.
Atualmente o Palácio está dividido em várias salas de exposição com objetos de ouro, como tronos, xícaras, talheres, berços, jóias diversas e pedras preciosas, tem também exposições de prata, cerâmica, miniaturas, roupas e relíquias sagradas para os muçulmanos, como por exemplo, pêlos da barba e a marca do pé do profeta Maomé! Dizem que sim, pelo menos! Cinco quilómetros de muralhas e torres protegem o terreno do palácio. O ambiente imponente permite-nos viajar no tempo.
Esta é uma visita que requer algum tempo, por isso façam-na com calma. Podem visitar as diferentes salas de exposição que já vos referi em cima, e também o Harém (bilhete à parte, podem comprar logo os dois, o do palácio e o do Harém).
Ao entrar, circulem pelos magníficos pátios e não deixem escapar nenhum detalhe.
O harém chegou a abrigar centenas de mulheres e concubinas no século XVII. A nossa imaginação viaja facilmente ao imaginar como seria a vida naquele ambiente proibido, aliás só o sultão e os seus filhos tinham acesso ao harém. Dá para imaginar aquelas festas das mil e uma noites, com música, dança, incensos, e ópio…
Outro ponto interessante no palácio são as cozinhas, que demonstram bem as tradições e cultura gastronómica otomana, aqui eram elaboradas diariamente milhares de refeições.
Entrada: 30Lt Palácio + 15Lt Harém
Uma das grandes vantagens de termos visitado estes edifícios com Guia, foi não só uma aprendizagem muito maior sobre a história e costumes mas também o facto de não haver filas na hora de comprar os bilhetes!
Grande Bazar
O Grande Bazar é provavelmente o maior e um dos mais antigos mercados cobertos do mundo. Aberto em 1461, pela ordem do sultão Mehmet é muito conhecido pela sua joalharia, cerâmica, especiarias e tapetes (e falsificações perfeitas, claro!). Este tem quatro portões de entrada e possui mais de 60 ruas com milhares de lojas.
Foi mandado construir primeiro como pequeno armazém e depois para reavivar o comércio da cidade, e para garantir receitas para a recém-alterada Santa Sofia, que estava a ser na altura transformada em Mesquita.
Para mim, este foi dos locais que mais gostei de conhecer na cidade, a loucura e a arte de negociar são brilhantes no povo turco! A forma como nos abordam pode ser inconveniente e irritante, por vezes, mas é hilariante também. As suas falsificações são do melhor, não comprei nada, mas bem que fiquei altamente tentada!
Se optarem por comprar, negoceiem e muito! Pelo que nos disse Hakan, o nosso guia, se o preço estiver etiquetado no artigo, não vale de muito negociar, se não estiver, podem negociar e conseguir descontos até pelo menos 40%!
Atenção que o mercado está fechado ao domingo.
Çikita, o nº18 do Mercado das Especiarias
Mercado das especiarias (Misir Çarsisi)
Se o Grande Bazar é um lugar a não perder em Istambul, o Mercado das Especiarias não lhe fica nada atrás, em particular quando se viaja com o João!
Mal entramos neste maravilhoso complexo de lojas, os cheiros tomaram conta do nosso olfacto e nos encaminharam a um novo mundo de cores, aromas e sabores.
Olhamos em volta e vemos pimenta, açafrão, canela, gengibre, oregãos, caril, frutas frescas, cristalizadas e secas, como tâmaras, figos, pistácios, damascos, ananás, banana, laranja, romã (a loucura dos turcos!) e doces deliciosamente incríveis, os tradicionais Baklava e turkish delights dos quais eu sou fã assumidíssima!
O bazar das especiarias é também uma autêntica farmácia de medicina oriental com medicamentos tradicionais e receitas milenares de misturas milagrosas feitas à base de plantas.
Basicamente há especiarias provenientes de todo o Médio Oriente e da Índia e a lista parece ser interminável.
Caso queiram fazer compras no Bazar recomendamos a loja nº18 a Çikita, especializada em açafrão, caviar e especiarias, é mais cara que a maioria das lojas do bazar mas a qualidade também é notoriamente diferente. Valeu mais uma vez a boa dica do Hakan, que terminou aqui a sua visita depois de um longo dia, com muita conversa e história à mistura. Foi uma excelente experiência pelo que não posso deixar de recomendar verdadeiramente a Luxury Istanbul para este tipo de serviço.
Fener e Balat com o Liceu Grego de Fener em fundo
Um bocadinho mais afastados do centro, temos também locais de extrema importância, como é o caso da:
Igreja de São Salvador em Chora (Mesquita Kariye ou Museu Kariye)
Esta belíssima igreja é considerada um dos mais belos exemplares de uma igreja Bizantina.
A igreja data do século XI e o seu interior é coberto com mosaicos e frescos, muitos deles colocados posteriormente entre 1315 e 1321 pertencentes ao poderoso governante Teodoro Metoquita, estes demonstram os exemplos brilhantes da era Renascentista.
Já no século XVI, a igreja foi convertida em mesquita pelo Império Otomano e mais tarde tornou-se um museu, já em 1958.
Ainda distantes do centro mas também na parte antiga de Istambul, aconselho-vos a passear pelos históricos bairros Fener e Balat, muito próximos um do outro e por onde passeamos depois de um histórico almoço no Asitane, um restaurante Otomano ao lado da Igreja de Chora.
O primeiro foi palco de residência das classes altas da comunidade grega, com casas que ainda mantêm bonitas fachadas de outros tempos, apesar dos vários incêndios e terramotos a que a cidade esteve sujeita. Atualmente este é um dos bairros mais pobres da cidade.
O segundo, serviu de residência aos judeus, gregos e ibéricos, que em muito contribuíram para o desenvolvimento da cidade nas áreas da medicina e relojoaria. Assim, como Fener, Balat é também um dos bairros mais pobres de Istambul.
Ao longo destes bairros irão encontrar fantásticas padarias artesanais.
Estes são alguns dos locais em que nos perdemos de amor por Istambul! Nesta parte antiga e histórica de Istambul há muito mais, mais uma mesquita, mais um museu, mais uma loja, mais um mercado, descubram a cidade, explorem-na, usufruam dela, Istambul merece ser vivido e consumido na totalidade!
Vista a primeira parte da cidade antiga de Istambul, a sul do Corno de Ouro, “viajem” comigo agora para a moderna Istambul, a norte do corno de ouro.
Istambul (Beyoglu – A Cidade Moderna)
Nota
– Caso necessitem de transportes privados recomendamos o uso da Blacklane, que nos transportou durante os nossos dias em Istambul.
– Aqui fica também o nosso agradecimento a toda a equipa da Luxury Istanbul, pela excelente forma com que fizeram a nossa visita. Nos seus planos, uma visita guiada custa 115€ por dia por pessoa (baseado num casal). Um cruzeiro no Bósforo custa aproximadamente 250€ à hora para grupos até 12 passageiros.
Onde Ficar
Grand Hyatt Istanbul
Hyatt Regency Istanbul Atakoy
Ciragan Palace Kempinski