Trânsito doentio, confusão sem igual, curvas e mais curvas, e uma imensidão de pessoas caracterizam a Costa de Amalfi!
À partida poderiam pensar que tudo isto é uma visão pouco positiva sobre aquele que é um dos destinos mais almejados de sempre, e no fundo até é. E porquê? Porque nem tudo é perfeito no paraíso!
Mas, a verdade é que até os seus defeitos contribuem para que a Costa de Amalfi seja isso mesmo, um paraíso!
A Costa de Amalfi sempre pertenceu ao meu top cinco da Europa, sempre tive um imenso desejo de a visitar, e assim, este Outono, em mais um regresso a Itália, decidimos incluir esta região em três dias da nossa viagem.
Três dias chegam? Talvez não, se ficasse mais tempo teria visitado mais cidades ou vilas, mas foi o suficiente para absorver a verdadeira essência da Costa de Amalfi.
Esta região é, nada mais nada menos que, um trajeto de costa de cerca de 60km que se estende desde Sorrento a Salerno, constituído por vilarejos ou pequenas cidades históricas e cuja beleza natural e idílica lhe garantiu o título de Património Mundial da Humanidade em 1997.
Há vários locais a visitar, nós ficamo-nos por Positano, Amalfi e Ravello.
Como chegar:
No nosso caso, vínhamos da charmosa Cortona (Toscana), e conduzimos até Sorrento (cerca de 4h30), onde fizemos uma breve paragem para um almoço memorável no Don Alfonso 1980, e depois conduzimos novamente (cerca de 1h) até que chegamos finalmente a Positano, ao belíssimo hotel Villa Franca (ver).
Ao conduzir até Sorrento pudemos ver algumas das regiões mais pobres do país, que nada faziam antever o luxo da costa. Por seu lado, Sorrento é mais uma espécie de estância balnear, já com uma infraestrutura de cidade grande, que combina o glamour clássico da Itália com um ambiente meio Algarvio de quem tem uma multidão para receber.
Por outro lado, também já se adivinhava alguma confusão no trânsito e na forma bem peculiar (que é como quem diz: bem psicopata!) de condução do povo italiano lá pelo sul – que é como quem diz: salve-se quem puder!
Mas lá chegamos sãos (não mentalmente – a condução dos italianos altera mesmo o meu sistema nervoso!) e salvos a Positano!
Caso não andem a visitar Itália de carro têm sempre a opção de chegar até à costa de transporte público. Por exemplo: se tiverem voado para Roma, podem apanhar o comboio até Nápoles (1h30 a 2h30) e depois procurar pela linha Circumvesuviana que vos levará até Sorrento (cerca de 1h), daí apanham um dos muitos autocarros que vos levarão até a Costa.
Erros a não cometer:
Nos dias que se seguiram visitamos Positano, Amalfi e Ravello, e cometemos um erro gravíssimo que aconselho desde já a não cometerem, tentamos visitar Amalfi e Ravello de carro! Esqueçam!
Uma vez que ficamos em Positano pudemos visitá-lo a pé desde o nosso hotel. Quanto a Ravello e Amalfi, começamos o dia bem cedo e fomos diretos a Ravello (cerca de 1h – sem trânsito), e até aí tudo bem, tivemos onde estacionar, mas se tivéssemos chegado uns minutos mais tarde já o caos se teria instalado. Quando saímos de Ravello, ao início da tarde, e tentamos ir a Amalfi, já a situação era impossível.
Por isso, a dica é a seguinte: se optarem por ficar hospedados somente numa das cidades façam essa mesma região a pé, e as restantes de barco, nomeadamente de Positano a Amalfi, ou vice-versa. Quanto a Ravello, como não é junto à praia como as duas anteriores, se optarem por ir de carro saiam muito cedo do hotel para conseguirem arranjar estacionamento, mas mesmo assim não se esqueçam que quando vierem embora estará um trânsito doentio!
Positano
Do hotel Villa Franca já conseguíamos ver as casas coloridas a descer em socalcos até ao azul brilhante do mar e a tocá-lo levemente. Uma das imagens mais bonitas da costa é, sem dúvida, esta conjugação entre o azul do céu e do mar e as cores vivas das diferentes casas ao longo da encosta.
Lembro-me perfeitamente da há uns anos atrás ver uma imagem deslumbrante deste vilarejo e de pensar: “Hei-de visitar este local!”.
E hoje percebo o quanto valeu a pena, e o quanto aquela beleza era real.
Positano é sedução desmedida, é encanto e mistério, e é eterno.
Com contos e lendas à mistura, provenientes da proximidade com as Ilhas Li Galli e as suas misteriosas sereias, Positano terá sido desde sempre um local com extrema importância marítima e adorado por quem lá teve o privilégio de passar.
Ilhas Li Galli
Um autêntico refúgio dos Deuses, este pequeno vilarejo foi local de maravilhosas residências do período romano, e terá mudado a sua forma urbanística em 1268 quando saqueado pelos Pisanos, assumindo uma postura mais defensiva com ruelas estreitas e casas no alto das rochas, fortes e torres de vigilância.
Já no século XVIII terá passado pelo seu momento de auge, graças ao porto e tráfego de mercadorias vindas de vários pontos estratégicos, no entanto, após a unificação de Itália, as novas rotas estabelecidas e a emigração para os EUA, Positano terá caído novamente em declínio.
Mas, graças à construção da famosa estrada Statale 163 (anteriormente a chegada a Positano só era realizada por mar ou por trilhos montanhosos) que liga toda a costa de Amalfi, este pequeno vilarejo esquecido renasceu das cinzas, e começou a tornar-se um verdadeiro refúgio do luxo!
Os antigos palácios transformaram-se em hóteis deslumbrantes e uma elite turística começou a transformar Positano e toda a costa na sua casa de férias. De Steinbeck a Picasso, todos queriam um bocadinho deste paraíso!
O que fazer em Positano:
Mesmo que não queiram perder muito tempo nesta vila, só passear por ela já é fascinante. Percam-se nas ruelas, façam compras nas variadíssimas lojas de roupa (como a Missoni), o linho é o rei por aqui, e se gostarem de bebidas alcoólicas não deixem de provar a iguaria da costa, o Limoncello.
Entrem na majestosa Igreja de Santa Maria Assunta, onde podem encontrar uma imagem da Virgem do século XVIII de inspiração Bizantina.
Descansem na Praia Grande (se conseguirem, porque para quem está habituado a areia fina, estas pedras assustam um pouco!), enquanto têm o mar como confidente e se deslumbram com a montanha e as casas coloridas em socalcos.
Outra atividade interessante é o caminho desde a Praia Grande até às praias mais sossegadas e recônditas, como a de Fornillo, o trilho é muito bonito, interessante e pouco cansativo, mas para os mais preguiçosos podem fazer esta travessia de barco.
Falando em barcos, não percam um passeio neste transporte, pois a visão que se tem do mar para a costa é ainda mais bonita que aquela que temos quando estamos em terra (há barcos a sair a cada instante da praia grande).
Podem também optar por visitar as Ilhas Li Galli e esmiuçar ainda mais a misteriosa lenda das sereias e das suas sedutoras vozes!
De Positano há imensos trilhos que nos levam a pequenas vilas escondidas nas montanhas e que nos permitem ter uma visão magistral sobre o azul do mar. Podem começar por seguir uma trilha que vai até ao Oásis de Vallone Porto, um local onde a natureza é rainha.
De positano, por uma infinidade de degraus ou de carro rumem a Montepertuso, a cidade dos Montes Lattari, que separa Positano do céu.
No topo deste encontram o Burgo Nocelle, de onde podem admirar uma das mais bonitas imagens da Costa de Amalfi.
Usem e abusem deste refúgio dos Deuses que é Positano!
Amalfi
Amalfi é um bocadinho mais confusa e mais agitada que Positano, e nós fomos no final de Outubro, mas como estava um clima maravilhoso, e como se avizinhava um feriado religioso, a cidade estava esgotadíssima! Nem quero imaginar como isto é em pleno verão!
De carro de Positano a Amalfi são cerca de 45min, que depressa se transformam numa 1h30. Por isso, ir de carro é para esquecer, não só porque o trânsito é exaustivo mas também porque lugares de estacionamento não existem, e os que existem já estão ocupados e são caríssimos. E como nós somos um bocadinho mais civilizados que os italianos, nem pomos em causa deixar o carro nas ruas estreitas e com curvas sinuosas, onde mal passa um carro, quanto mais dois e com carros mal estacionados! Por isso, já sabem, barco é das melhores opções.
Amalfi é a mais antiga República Marítima da Costa de Amalfi e de Itália. A sua beleza é ímpar, e ainda hoje mantém vestígios da sua origem romana do período imperial.
A sua beleza está presente nas casas muito próximas que conjugam o branco imaculado com as cores vivas, no azul do céu que é rasgado pela montanha, nas ruelas protegidas por pórticos, nas torres de vigilância e na praia preenchida por guarda-sóis coloridos que terminam no azul esmeralda do mar.
O que fazer em Amalfi:
Não percam a visita à Catedral, o símbolo máximo da cidade. Iniciada no século IX foi restaurada várias vezes dando origem à imponente construção que vemos hoje. A sua bonita fachada policromada antevê o interior ainda mais majestoso. Este último de estilo barroco com a estátua de bronze de Sant´Andrea no altar.
Dentro da catedral temos acesso à primeira catedral aqui construída, a Basilica del Crocefisso e ao Chiostro del Paradiso, o antigo cemitério dos cidadãos ilustres.
No exterior temos a Piazza del Duomo, com a Fontana del Popolo no centro. Próximo, passando por um pórtico, chegamos aos Antigos Arsenais, onde eram construídos os navios de guerra. A poucos metros encontram também a Piazzetta dos Doges com oficinas típicas.
Para quem for com mais tempo, imperdível a visita a Atrani, muito próxima de Amalfi.
Para quem quiser relaxar, a praia é a melhor opção.
Ravello
Dos três locais em que estivemos, sem dúvida que Positano era o que ocupava o espaço mais querido no meu coração, mas eram dois locais em Ravello que viriam a levar o prémio para casa!
A Villa Cimbrone e a Villa Rufolo. Decorem estes nomes, pois estes são os dois locais a não perder numa visita à Costa de Amalfi.
Ravello é um misto de arte, cultura e música, tendo já sido palco de nomes como Wagner, Miró e Viriginia Wolf, entre muitos outros.
Fontes históricas relatam a presença de famílias nobres que se revoltaram contra as autoridades da Costa de Amalfi e se mudaram para Ravello. Este prosperou bastante e no século XI rompeu laços com a República Marítima de Amalfi. O declínio não tardou com as conquistas normandas, e no século XIX foi unificada a diocese de Amalfi. Mas Ravello jamais perdeu a sua beleza e elegância tão características.
Pelo contrário, Ravello tornou-se no local das mais importantes personalidades do mundo, que se renderam totalmente ao seu charme.
O que fazer em Ravello:
Chegamos a Ravello bem cedo, ao contrário de Positano e Amalfi, Ravello não se situa à beira mar, mas sim, mais acima, fomos de carro desde positano e demoramos cerca de 1h15min, não havia grande trânsito. Estacionamos num parque de estacionamento pago, e rumamos à praça principal, onde se encontra a Catedral.
Este é o primeiro cartão de visita desta cidade, mas não o mais importante.
Daqui seguimos sem demoramos para a Villa Rufolo, que se localiza mesmo ao lado da praça. A entrada é paga, mas um valor bastante simbólico para a beleza do local, 5€.
Esta foi construída na segunda metade do século XIII pela nobre família Rufolo, e o mais fascinante é a sua arquitetura que mescla estilo árabe com linhas árabes-normandas e mouriscas.
Todo o complexo é deslumbrante mas o ex libris são mesmo as vistas que se obtêm do mar. Divinal, sem dúvida alguma!
Aqui acontece, também, o festival de música Wagneriano.
Da Villa Rufolo seguimos para a Villa Cimbrone, onde se encontrava o local que me levou a Ravello, aquele que aparece no Google quando pesquisamos por Costa Amalfi, o Terraço do Infinito.
Muito provavelmente um dos mais bonitos locais do mundo!
Villa Cimbrone – Terraço do Infinito
Este também terá sido o pensamento de Lord William Beckett quando em 1904 comprou o terreno onde existia uma antiga casa abandonada e o transformou num dos mais idílicos locais de sempre. Aqui podemos encontrar uma mistura de estilos e épocas intemporais e distintas com restos arqueológicos fascinantes.
Os jardins são adornados com estátuas, fontes, templos, grutas e plantas de várias espécies.
O ex libris é mesmo o Terraço do Infinito. Honestamente, podia passar a minha vida toda a tentar explicar-vos o que se sente quando se chega a este local, mas nada do que eu possa dizer é suficiente para descrevê-lo, não há adjetivos para isto!
O ponto mais alto desta viagem a Itália e, sem a mais pequena dúvida, um dos locais mais idílicos, majestosos, divinais e perfeitos onde já estive.
Na Villa Cimbrone localiza-se também um hotel de luxo, um restaurante com estrela michelin, e é ainda possível a realização de casamentos, que diga-se de passagem, será certamente o local mais bonito do mundo para se casar!
A entrada no complexo é paga: 7€.
Para quem ficar mais do que um dia em Ravello pode ainda visitar o Auditório de Oscar Niemeyer. Uma arquitetura completamente distinta da restante cidade.
Esta foi a nossa experiência num dos mais belos locais do mundo, a Costa de Amalfi, uma arquitetura única, um charme peculiar, uma azáfama que tem tanto de irritante como de característico, e uma autêntica visão do paraíso que não se encontra em mais lado nenhum.
Percebe-se perfeitamente porque os habitantes referem que a chegada ao paraíso não será nada de entusiasmante… Eles já estão no paraíso dentro das suas próprias casas!
Fotos: Flavors & Senses