O Terminal 4450 já não é uma surpresa para ninguém, do mais informado foodie ao cliente mais desatento já toda a gente visitou ou ouviu falar no projecto de Ricardo Rodrigues no antigo Terminal de Cruzeiros de Leça da Palmeira.
Muita tinta corrida, muitos blogs e muita azáfama nas redes sociais aliados a uma cozinha afinada, também ela com o selo de Nuno Crasto (Esquina do Avesso) e eis que temos um dos restaurantes mais trendy da cidade, valendo-lhe aliás a nomeação para restaurante Revelação e Trendy nos prémios “Flavors & Senses – Os Melhores Para” respetivamente nas edições de 2016 e 2017.
Mas vamos lá escrever mais um pouco, para quem ainda não se cansou de ler sobre este Terminal. Ora onde antigamente funcionou um Bar, o empresário decidiu abrir um restaurante, que é também um “aeroporto” onde a viagem termina debruçada sobre o Mar, o rio Leça, os barcos, as gaivotas e os restaurantes de peixe de Matosinhos, tudo com um plano muito específico, trazer uma steakhouse a uma zona famosa pelo peixe.
A marca gráfica e a identidade do restaurante, trabalhadas por Ricardo e os designers da Another Collective, foram um dos primeiros sinais de sucesso em torno do restaurante – Um ponto que merece e precisa de ser cada vez mais trabalhado pelos restaurantes portugueses – .
Tal como referi, a ideia do aeroporto começa na manga de acesso, passa pelas malas, o balcão de check in e termina na mesa com o passaporte, que é como quem diz, a carta.
Instalados nas amplas mesas de madeira que trazem alguma rusticidade ao ambiente cosmopolita do restaurante, e de passaporte carimbado começamos mais uma viagem!
Do couvert são já famosas as pipocas salgadas cujos temperos vão variando de dia para dia (oregãos nesta última visita), e os frascos, aqui com uma simples mas boa combinação de queijo feta e azeitonas.
Bola de Rosbife (7€)
Uma das várias entradas disponíveis são as bolas com vários recheios, aqui optou-se pela de Rosbife, que se apresentou em melhor forma que numa visita anterior, em que o meu odiado óleo de trufa colocado em excesso abafava todos os elementos. Aqui com a carne no ponto, bem conjugada com elementos que lhe conferiam frescura e untuosidade. Um bom início!
Tártaro de Boi (10€)
Se estamos aqui para comer carne, um tártaro é ponto obrigatório. Tostas simples e competentes, carne bem cortada e saborosa, apesar do tempero modesto que poderia ser mais rico e ligeiramente picante, nota positiva para a cebola crocante e a mostarda em grão.
Costelinhas de Porco na Brasa (10€)
Aquela carne pecaminosa, cozinhada no ponto, ainda suculenta e bem temperada. Pontos para o molho de travo agridoce em contraste com um menos conseguido coleslaw.
Salsichas Artesanais (6,5€)
Mantêm-se como uma das melhores propostas desde a primeira vez que provamos este prato de inspiração noutros sotaques. Salsicha bem conseguida e de cocção irrepreensível, bem complementada pela esmagada de batata e a cebolada, que fornecem um bom jogo de texturas e contraste de sabores pecaminosos. Comida de conforto em alto nível!
Costeletão (36€)
Numa refeição já bem rica e pesada, não podíamos deixar de provar o costeletão, que apesar de não ser proveniente de um animal velho apresentava uma boa quantidade de gordura e bom sabor. A faltar-lhe apenas as notas transmitidas pelo carvão!
De referir ainda os acompanhamentos, normalmente os elementos menos conseguidos deste Terminal 4450, onde se destacam pela positiva os bons palitos de polenta fritos e o arroz com pequenos pedaços de chouriço, que mais uma vez se revelaram uma escolha acertada.
Tarte de Limão Merengada (4€)
As sobremesas são um dos pontos onde Nuno Castro mais se tem destacado, e a apresentação desta desconstrução da tarte de limão é um bom exemplo disso. Boa combinação de texturas, boa frescura do sorvete de limão que contrasta bem com a doçura (excessiva) do creme de limão.
Um bom final para uma refeição já longa e pesada!
Para acompanhar a refeição a escolha não recaiu sobre o habitual vinho tinto, mas sim sobre o fantástico Loureiro da Quinta do Ameal cuja colheita de 2015 está particularmente fantástica. Um dos grandes brancos portugueses!
Quanto ao serviço, nada de negativo a apontar, jovem, eficiente, de sorriso no rosto, com conhecimento da carta e a demonstrar atenção e cuidado com o cliente, mesmo com a casa cheia.
Considerações Finais
O Terminal não é um daqueles restaurantes da moda em que apenas se quer ver e ser visto, ou onde se quer estar mais pelo ambiente do que propriamente pela comida. É um valor seguro e mais uma aposta ganha por Ricardo Rodrigues depois da Esquina do Avesso e da Sushiaria, que mostra que este jovem empresário ainda tem cartas para dar na restauração da cidade.
Um restaurante de marca e identidade fortes, conjugadas com uma cozinha simples e opções para todos os gostos e a preços corretos. É certo que tem ainda margem de manobra para melhorar em vários aspectos, desde a qualidade da matéria prima (têm já algumas peças de carne maturada que prometem fazer a diferenciação) a pequenos detalhes da sala e do serviço, mas o caminho está mais do que bem traçado, e a nós resta-nos voltar para provar a nova carta!
Terminal 4450
Preço Médio: 30€ por pessoa sem vinhos
Avenida Doutor Antunes Guimarães – Leça da Palmeira
+351 229 954 020
Fotos: Flavors & Senses