Depois de uma longa série de artigos em viagem, quebramos a rotina e voltamos ao Porto e aos seus restaurantes, que sempre serão a grande base deste blog. Com tantas aberturas no último ano e tantas coisas ainda por conhecer( ainda que algumas prefira nem experimentar), optamos por visitar um dos espaços abertos em 2014 de que mais se tem falado, o Reitoria. Um espaço que rouba o nome ao histórico edifício da Universidade do Porto, bem em frente do restaurante, ou seja, é difícil conseguir melhor localização na baixa da cidade. O restaurante recupera uma antiga casa de dois pisos, mantendo a fachada original e recriando no seu interior duas áreas distintas, no piso inferior o conceito é o de um Wine Bar e de um Deli, em que se servem sandwiches feitas em Focaccia (de produção artesanal no próprio restaurante) e no piso superior o restaurante propriamente dito, uma verdadeira Steakhouse com as carnes grelhadas a tornarem-se a marca do Reitoria.
A decoração do espaço acompanha os conceitos, com o piso inferior a destacar-se pelas mesas altas e as vitrines em que são expostos os bons ingredientes que recheiam as suas focaccias. No Piso superior, mantêm-se o ambiente cool, numa pequena sala, bem composta de mesas (aqui não há hipótese de falarmos em distância correta entre mesas), montadas de uma forma clean e minimalista.
Já sentados, começamos com um bom couvert, em que se destaca a qualidade das focaccias que produzem na casa.
Terrina campestre com Pistáchios e pickles (7€)
Quando a provei, tinham passado poucos dias desde que tinha provado uma das melhores terrinas da minha vida em Paris, pelo que a comparação era obrigatória. Não estando ao mesmo nível, não comprometia em sabores e texturas, muito bem conseguida, com boas camadas e balanço entre carne e gordura. Pecou apenas por ser servida um pouco fria (beneficiava se fosse à temperatura ambiente). Bom início.
Portobello, ovo BT, espuma de Tallegio e espargos verdes (8€)
A descrição dos ingredientes no menu criava espectativas altas, às quais a imagem não correspondeu. Mas no mais importante, o sabor, o prato entrega aquilo que promete, um bom conjunto de sabores terrestres que se complementam muito bem entre si. Ótima a espuma de queijo.
Bochecha de Novilho Confitada, espuma de batata e legumes (15€)
Sabendo que estamos numa steakhouse, optámos por pratos que não conhecem a grelha, uma vez que tendo algumas expectativas quanto ao trabalho do jovem chef Pedro Braga, quisemos conhecer os seus pratos mais trabalhados. Um desses pratos foi uma fantástica bochecha de novilho, cozinhada na perfeição, macia e suculenta com um excelente molho. Boa também a escolha dos legumes e a sua cocção. Para mim a espuma de batata, ainda que interessante no conceito e leveza, pecou na temperatura (estava fria), num conjunto que nada pede por uma combinação de diferentes temperaturas. Estivesse quente e era um brilharete.
Barriga de Porco Asiática (16€)
Foi por um prato assim que me mantive afastado da grelha, uma barriga bem preparada e cozinhada, de textura irrepreensível e sabor delicado. Acompanhada por um caldo límpido e ligeiramente picante (aqui talvez pudessem ser mais audazes nos sabores asiáticos, mas compreendo a contenção), batata no ponto e couve. Muito Bom.
Da lista de guarnições, escolhemos ainda uma selecção de legumes assados com balsâmico e coentros (3), muito bem preparados e mais uma vez com uma escolha diferente do habitual.
Bolo encruado de chocolate, panacotta e frutos vermelhos (6€)
Com uma apresentação menos interessante que a dos pratos principais, a sobremesa cumpriu bem a sua função. Com o bolo a ser isso mesmo, um bolo ligeiramente cru e sabor a chocolate, o destaque vai para a panna cotta de baunilha, com uma textura fantástica (nada dos habituais excessos de gelatina) e sabor delicado. Um bom final, que merecia melhor apresentação.
A carta de vinhos não é um dos fortes do espaço, curta, ainda que com boas opções, maioritariamente do Douro. Acabamos por acompanhar muito bem a refeição com clássico Quinta dos Aciprestes da Real Companhia Velha.
O serviço de sala, com um elemento já nosso conhecido de outras lides, foi eficaz, com descontracção, à semelhança do espaço mas com eficácia na resposta, da simpatia ao conhecimento demonstrado sobre a carta.
De negativo devo realçar a carta e a iluminação. A carta impressa numa folha a4 de papel, meio amarrotada e com um grafismo algo deficiente, não se coaduna com os preços, a cozinha e o próprio ambiente do espaço. Um ponto importante e simples de rever. A iluminação por seu lado é muito baixa, gosto de restaurantes a meia luz, com ambiente cosmopolita, mas gosto também de apreciar os pratos, as cores e um pouco mais do espaço.
Considerações Finais
O Reitoria é sem dúvida um dos melhores espaços da nova vaga da restauração portuense, com produtos de qualidade e uma oferta diferenciada, desde as informais sandwiches às mais requintadas carnes grelhadas num magnífico Josper. É certo que tem pontos a melhorar e algumas falhas incompreensíveis, como o grafismo e o papel do Menu, mas da sua cozinha saem pratos interessantes, com bons produtos, boa técnica e um ou outro rasgo de criatividade do jovem chefe Pedro Braga, que espero ver seguir mais essa vertente, ainda que mantendo o conceito bem conseguido de Steakhouse. Voltaremos em breve!