Paris é a cidade da luz e do luxo, desde há séculos que ninguém negoceia nesse ramo como os franceses. As lojas de moda, os hotéis, a joalharia e claro a haute cuisine são claros exemplos disso. Restaurantes afinados ao pormenor, com decoração clássica e ambiente formal são um clássico de Paris que merece ser experimentado, nem que seja uma vez na vida. Um desses restaurantes é o La Grande Cascade, localizado fora do centro, no coração verde da cidade o Bois de Boulogne, num pavilhão mandado edificar por Napoleão III para ser a sua base em época de caça e desenhado por Haussmann (o pai da cidade de Paris tal como a vemos hoje). Em 1900 por altura da exposição mundial sofreu alterações e tornou-se num restaurante, passando, desde então, por todas as fases da cozinha francesa e pela mão de chefes famosos como Alain Ducasse ou Jean-Louis Nomicos, hoje entregue a Frédéric Robert antigo chefe do Lucas Carlton aquando do seu auge.
Quando passamos a porta da entrada, a decoração transporta-nos para um ambiente da Belle Époque, como uma viagem no tempo ao jeito de Woodie Allen e do seu Midnight in Paris, motivos florais, impressionantes mármores florentinos, lustres de cristal e mobiliário com mais história do que a que alguma vez viveremos. A impressão é de que não estamos a entrar para comer, ou simplesmente comer, mas sim para apreciar o momento, a envolvência, observar os pequenos detalhes e deixar-nos levar no tempo.
Já na mesa, espaçosas e minuciosamente dispostas em frente das grandes janelas do edifício, começamos a refeição com um pequeno Amuse buche, que nos mostrou que ali havia mais do que uma decoração e um fator histórico. A espuma de ovo com puré e molho de trufas estava divinal.
Enquanto aguardamos as entradas, é servido pão , de excelente qualidade e variedade (não me canso de pão em Paris), e uma ótima manteiga.
Lagostim à la plancha, agnolotti de abóbora, caldo de erva-príncipe, maça verde, cogumelos
Um prato refinado, com ingredientes bem conjugados, e acima de tudo saboroso. Massa com excelente textura, lagostins no ponto certo e um caldo brilhante. Um grande início.
Harmonizou bem com um branco simples de Vale do Rhône, um Château Saint-Roch 2012.
Vieiras, Tupinambo, alho francês baby, molho de vin jaune e manteiga, trufa preta
Mais uma elegante apresentação, num conjunto que funciona bem. As texturas do tupinambo e do alho francês, o crocante e a delicadeza da vieira resultaram. Sendo esta última o único elemento menos conseguido com algumas das vieiras a passarem do ponto. O molho de vin jaune ( um tipo de vinho francês parecido com o Sherry mas sem ser fortificado) e as trufas fizeram uma excelente ligação de todos os elementos.
A acompanhar, um Chablis 2011, Domaine D’Elise.
Carré Cordeiro de Lozère, tomate recheado com beringela, flor de courgete recheada com alcachofra, creme de pimentos assados e molho de pimenta
O cordeiro de Lozère, na região dos Pirenéus, é famoso por toda a França, aqui magistralmente cozinhado por Frédéric Robert, num conjunto colorido e funcional, sem sobreposição de sabores num grande jogo de textura. É um clássico da casa que se vai reinventando a cada estação.
Funcionou particularmente bem com um Syrah 2011 cuja casa fugiu aos meus registos.
Saint-Marcellin caseiro, gemgibre confitado, alperce , avelã e torradas de Sourdough
Em França sê Francês, e não há nada como os seus vários e poderosos queijos. Gosto particularmente deste, Saint-Marcellin, um queijo aparentemente simples, com uma textura cremosa que apresenta um complexo sabor a frutos secos. Excelente.
Resultou particularmente bem com um Des Soulanes, Maury, um vinho doce, bastante leve.
Mousse de castanha, merengue de coco, gelado de cassis, creme inglês, chocolate
Uma sobremesa que pretende realçar a castanha, numa soberba mousse com pequenos pedaços de castanha glacé, a ligar com elementos mais frescos como o gelado de cassis e o coco presente no meregue. Excelente apresentação e sabor, onde o ponto menos positivo foi o merengue um pouco grosso e por isso mais duro e difícil de comer.
Enquanto terminamos a refeição e vamos aproveitando o tempo que nos resta no ambiente único do La Grande Cascade, são servidos os Petit four, gelado de frutos exóticos e uma ótima patê à choux com avelã.
O Serviço é irrepreensível e formal com toda a mestria do classicismo francês sem se tornar invasivo ou constrangedor. Funcionando calma e paulatinamente permitindo aos comensais desfrutar dos pratos e do ambiente.
Das mãos do chefe Frédéric Robert saem pratos visualmente irrepreensíveis, com cada elemento a ser criteriosamente colocado num jogo de cores, volumes e texturas que não deixam ninguém indiferente. Aliando, claro, a técnica refinada e o sabor, que em momento algum um ou outro pontos menos conseguidos, conseguiram comprometer.
Considerações Finais
O La Grande Cascade é um histórico de Paris, e será certamente um dos restaurantes mais românticos da cidade, se não o mais. Pode facilmente ser aquilo que imaginamos quando pensamos em grandes e imponentes restaurantes franceses. É um espaço vivido com carinho pelos parisienses que por lá gostam de celebrar datas importantes ou marcar almoços de domingo com a família. Não é, à semelhança dos principais restaurantes da cidade, um espaço barato, aqui o luxo é condição certa, desde a escolha dos ingredientes, à louça ou os elementos decorativos. Mas a cozinha de Frédéric Robert, galardoada com uma estrela Michelin, a elegância do espaço e as memórias únicas para o futuro são um cartão de visita mais do que válido, que tornam um daqueles sítios a visitar pelo menos uma vez na vida, seja em clima de romance ou de revivalismo histórico. E no Verão a maravilhosa esplanada promete ser uma paragem obrigatória.
À saída não deixem de visitar a cascata que lhe deu nome.
La Grande Cascade
Allée de Longchamp – Bois de Boulogne, Paris
0145 2733 51
grandecascade@restaurantsparisiens.com