O coração Transmontano, numa das margens do rio Tua, não é certamente o local mais comum para um restaurante com cozinha de autor, aliando a isso o facto de ser um dos restaurantes mais bonitos do País, a visita tornou-se obrigatória. O corajoso João Carlão criou um espaço de decoração moderna e requintada, com respeito pela localização, pelas tradições transmontanas e claro, pelo azeite. O lema da casa “comer sem azeite é comer miudinho” é bem patente ao longo de toda a refeição onde o produto mais nobre da região se mostra em grande força numa cozinha de raiz transmontana com toque de autor.
Couvert, torrada,pão variado, azeite, azeitonas, alcaparras transmontanas
A Azeitona é dona e senhora e é apresentada aqui nas suas diversas formas e, claro, como bom transmontano que sou as alcaparras ( azeitona meio esmagada, sem caroço e curtida) são sempre rainhas.
Ligações de míscaros e alheira de caça com sabores de Trás-os-Montes, míscaros, alheira, torrada, queijo terrincho, cogumelos portobello (8€)
Uma entrada que mais parece uma refeição, a confecção estava perfeita, com uns excelentes cogumelos e uma ótima alheira muito bem trabalhada nas duas versões apresentadas. O queijo tornou-se uma boa ponte de ligação, o único senão foi mesmo um osso de frango que deve ter “voado” entre os dedos. Um erro infeliz.
Cogumelos Portobello recheados com alheira transmontana, beldrejos de rúcula (6,5€)
A combinação estava magistralmente conseguida, tanto estética como gastronomicamente falando, desta feita sem ossos o que valorizou toda a entrada.
Duo de linguini, pesto e nero, gambas salteadas, confitado de tomate seco e coentros (14,5€)
Um prato de massa num restaurante transmontano é algo estranho, assim como o seu resultado, apesar de um molho muito bem conseguido a massa estava demasiado cozida e os camarões, esses, eram de uma qualidade demasiado fraca que viu gelo por demasiado tempo e que não se adequavam em nada ao prato e ao preço.
Posta de Vitela do Planalto em torrada de azeite, tomate, batata a murro, cogumelos (17,5€)
Um saboroso naco de vitela, ao qual é permitido sobressair sobre os acompanhamentos, no ponto desejado (médio-mal) e com um excelente molho. Já as batatas, por seu lado poderiam ser mais leves em sal. Uma excelente opção.
Bolo de chocolate e azeitona, gelado de limão, creme de azeite (6,5€)
Bolo do tipo petit-gateaux onde a junção da azeitona em pedaços com o chocolate, não sendo das mais convincentes, não compromete. O bolo tinha o fundo queimado, que lhe transmitia um sabor indesejável. O gelado de limão (caseiro?) era delicioso e o creme ligeiro de azeite estava muito bem conseguido.
A carta de vinhos é extensa, bem catalogada, com excelentes opções e preços correctos. Optamos por acompanhar a refeição com um Duas Quintas Branco de 2010, que se tornou uma excelente companhia num dia com 40º C.
O Serviço valeu especialmente pela mestria da chef de sala, sempre atenta a todos os comensais, corrigindo rapidamente as pequenas falhas que iam ocorrendo (muitas vezes antes de os restantes funcionários se aperceberem do que aconteceu). Apesar da célebre expressão ” quem espera sempre alcança” o serviço de cozinha precisa de ser algo mais célere, e na sala é necessária mais atenção aos copos dos comensais.
Considerações Finais
O Flor de Sal é muito mais que um restaurante lindíssimo, tem uma carta bem conseguida numa simbiose de tradição e inovação, doses extraordinariamente grandes (é um espaço de transmontanos para transmontanos), uma garrafeira interessante e acima de tudo pessoas interessadas. É um espaço que merece sem dúvida uma visita e que com atenção a alguns pormenores tanto na cozinha como na sala pode facilmente ser mais que uma referência da cidade.
Flor de Sal
Parque Dr. José Gama (Mirandela)
Coordenadas GPS: N 41º 29′ 8,84” , W 7º 11′ 9,76”
278 203 063