Chryseia 2015 e a cozinha de Vítor Matos

Numa  altura em que ja se deve estar a preparar o lançamento da edição de 2016 do Chryseia, é impossível deixar de tecer algumas palavras sobre um dos grandes vinhos do Douro, mais ainda sobre um ano tão peculiar como 2015.

E começou bem a apresentação, um dia de sol, o elegante terraço do Antiqvvm, o sempre refinado Champanhe da Pol Roger e os snacks frescos de Vítor Matos, onde não faltou um ceviche de camarão, “sandes” de queijo e presunto e tomate com queijo fresco.

“Sandes” de Queijo e Presunto

Já à mesa, e sem a habitual presença de Bruno Prats (reputado enólogo que se associou à Symington para abraçar o projecto da Quinta de Roriz), tivemos a oportunidade de provar  alguns dos seus vinhos, começando por um peculiar Chardonnay Chileno, Sol de Sol 2012.

Um branco muito bem concebido, com notas cítricas, algum fruto seco, boa untuosidade e ótima acidez.

Pregado do Atlântico, ervilhas, batata, espinafres e trufa

Para dar início ao menu, Vítor Matos escolheu um prato muito bem conseguido, em torno de um Pregado do Atlântico. Peixe no Ponto, bom equilíbrio de sabores e texturas, com corpo e peso, sem que nenhum dos elementos se sobrepusesse ao delicado Pregado.  Funcionou muito bem com o vinho!

 Charles Symington

Seguiu-se a prova da tão esperada edição de 2015 do já clássico Chryseia. Um vinho que segue na linha da edição de 2012, que não tendo o poder e o reconhecimento do 2011 (3º Lugar no Top 100 da Wine Spectator), mostrou um vinho muito mais elegante, sofisticado e harmonioso.  Vinhos que dão prazer beber e descobrir, porque não nos expõe tudo à primeira vista.

O nariz traz-nos notas marcadas pela Touriga Nacional, com aromas florais, e alguma esteva a harmonizar com muita fruta, especiarias e jovialidade, um nariz que chama e nos transporta pelo Douro. Por sua vez, a boca traz-nos uma ótima estrutura, uns taninos bem presentes mas moldados e uma frescura rara que lhe traz a elegância e leveza que muitas vezes falta aos grandes vinhos do Douro.

O tempo tratará de fazer deste 2015 uma das melhores edições do Chryseia, o segredo é conseguir reservar as garrafas escondidas por mais alguns anos!

 Pombo Royal, foie, rabo de vitela baronesa , tupinambo e beterraba

A acompanhar esteve um prato gordo e rico, com um excelente equilíbrio de doçura, numa conjugação de Pombo Royal, Foie e rabo de Vitela Maronesa. Ótimo no contraste de texturas e sabor das carnes, faltou-lhe apenas um pouco de frescura, para elevar o prato a um outro nível.

Seguiu-se um dos momentos altos da tarde, a prova de um dos grandes vinhos criados por Bruno Prats, na sua antiga propriedade em Bordéus, o Grand Cru Classé  Cos D’ Estournel 1986Um clássico bordalês, ainda em grande forma, com o Cabernet Sauvignon a levar-nos para aromas de tabaco, especiarias, cogumelos e algum fumado. Um grande vinho!

Queijo de Azeitão e Queijo Serra da Estrela 

Uma dupla interpretação de Vitor Matos de dois clássicos queijos nacionais, que partilham a sua origem. Muito boas conjugações e boa imaginação, especialmente com a compota de cebola e vinho do Porto e os frutos vermelhos, fizeram deste um momento bastante interessante no que diz respeito a trabalhar o queijo sem o desrespeitar.

Como boa casa Duriense que se preze, o almoço não poderia terminar sem o Vinho do Porto, neste caso um Vintage 2000 da Quinta de RorizAinda com uma ótima cor e cheio de fruta escura que começa a ganhar harmonia com aromas terciários. Muito prazeroso na boca, fez uma boa harmonização com a sobremesa de Chocolate e Cereja de Resende.

 Chocolate e cerejas de Resende, balsámico velho, pistácios e café

Uma sobremesa bem conseguida, com as notas de café e chocolate a funcionarem sempre em grande harmonia. A elevar o prato estava o kick final do balsâmico, num conjunto onde o creme de pistácio pouco acrescentou.

Foi um ótimo almoço, que não só vem provar a criatividade e qualidade da cozinha de Vitor Matos, mas também um novo rumo na sua cozinha, mais elegante e subtil, vincadamente menos marcada por demasiados elementos no prato, mais  centrada no produto e no sabor do elemento principal.

Quanto aos vinhos não há qualquer tipo de dúvida de que esta parceria entre a Symington e Bruno Prats cria, ano após ano, um dos grandes vinhos do Douro. Se os anos seguintes seguirem este perfil do 2015, serei sempre um homem muito feliz quando provar um copo de Chryseia!

English Version

Fotos: Flavors & Senses

Nota
Estivemos na apresentação do Chryseia a convite da Prats & Symington, sendo que isso em nada altera o nosso trabalho cuja opinião e o texto são da exclusiva responsabilidade do seu autor.

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