Antes de começar a falar sobre o restaurante devo admitir que nutro um particular respeito pelo trabalho de Sérgio Cambas, o jovem empresário que há alguns anos pegou num restaurante de ambiente teoricamente ultrapassado e localizado, numa zona onde ninguém queria ir, e o transformou naquilo que é hoje o Paparico, o nosso restaurante do Ano em 2014 (ver). Sérgio é chefe, escanção, cicerone e empresário e faz tudo isso de forma certíssima e eficaz, pelo que a abertura de mais um espaço com a sua assinatura criou elevadas expectativas.
A descida até à baixa era algo que certamente ambicionava, abrindo assim uma Cervejaria, tão à imagem de alguns dos mais emblemáticos nomes da cidade. Mas de semelhante só o conceito, aqui não há luzes fortes, mas sim uma boa iluminação, não há o frio do inox, que é substituído pelo uso intensivo da madeira, que nos remete para um ambiente de conforto que não encontramos em mais nenhuma cervejaria. Em suma, a decoração do espaço foi muito bem conseguida.
Passando ao que realmente interessa e depois de bem instalados, começamos a refeição com pão de boa qualidade (2€), uma ótima manteiga de presunto (0.70€), umas crocantes e saborosas folhas de arroz com oregãos (1€), azeitonas e alcaparras bem temperadas (2€) e um bom creme picante.
Passando às entradas, eis que surgiram na mesa umas bonitas e bem limpas ostras nacionais. A acompanhar, muito bem, finas rodelas de pepino e lima cuja frescura e acidez combinou muito bem com a ostra. Muito bom!
Repolgas e espargos salteados em Pingue de presunto, gema de ovo (6,5€)
Cogumelos, ovos, espargos e gordura são e serão sempre uma combinação prodigiosa. Aqui com todos os elementos bem temperados e cozinhados no ponto, senti apenas falta de um pouco mais de molho, ou então (seria perfeito) de mais uma gema que ajudasse a ligar melhor todos os elementos.
Bife do Lombo com cogumelos (17€)
Um bom e generoso bife do lombo, servido no ponto certo e coberto com um delicado molho de finas fatias de cogumelos paris com a textura e a untuosidade perfeita para o prato. A acompanhar, umas excelentes e crocantes batatas fritas à rodela e uma bonita e saborosa salada. Assim se faz jus ao nome de cervejaria!
Francesinha (9€ – com ovo 9,50€)
Não sou o maior consumidor nem o maior fã deste icónico prato da cidade do Porto, mas, ainda assim, volta e meia lá surge a vontade de entrar por “maus caminhos”. Aqui, o resultado foi ótimo, o molho tinha o sabor certo, picante q.b., com a textura certa e a deixar que se sinta também o sabor dos restantes elementos do prato. Queijo bem derretido, bife tenro e saboroso e as delicadas salsicha e linguiça fresca cuja origem não engana. Uma francesinha muito bem conseguida, que entra facilmente para o top das minhas escolhas.
Nota positiva ainda para as boas batatas fritas e para a molheira que surge automaticamente na mesa.
Bolo húmido de Chocolate com gelado de Pistácio (4,5€)
Um clássico fondant de chocolate, doce e com a textura certa. Bom também o gelado, embora preferisse o bolo acompanhado de um gelado mais ácido e sem nata.
Cheesecake de Banana com caramelo (3,5€)
Uma apresentação digna de um outro tipo de restaurante, numa sobremesa muito bem conseguida. Tarte de queijo, saborosa e sem os habituais excessos de gelatina e doce na medida certa, excelente o creme de banana e os apontamentos de caramelo e chocolate, que não só melhoraram o sabor como também a textura do prato. Ótimo final!
A acompanhar a refeição, uma cerveja artesanal Sovina de pressão e o simpático Allo de 2013 da Soalheiro (12€).
Antes de falar no serviço, uma nota em especial para as bonitas loiças em que os pratos são servidos, pintadas à mão ao bom e velho estilo de Viana, que por si só transmitem um charme particular.
Do serviço poderia dizer muito, ou nada, dada a forma perfeita como decorreu toda a refeição, com uma simpatia única e uma atenção quase cirúrgica à boa imagem do seu criador. Algo raro particularmente quando pensamos que ainda é um projeto recente. Certamente não encontrarão um serviço assim em mais nenhuma cervejaria da cidade.
Considerações Finais
O Brasão é mais uma aposta ganha de Sérgio Cambas, mesclando a experiência do Yuko com a técnica e o serviço do Paparico. A decoração quebra todas as barreiras em jeito de rústico contemporâneo e a cozinha remete-nos muitas vezes para um outro estilo de restaurante. É sem dúvida um sítio que será visitado por muitos pela sua francesinha mas que é e sempre será muito mais do que isso.
Até Breve!
Cervejaria Brasão
Rua Ramalho Ortigão, 28 Porto
934 158 672
geral@brasao.pt
Chega a ser irrisório, um comentário a uma francesinha sem qualquer tipo de apontamento para o pão. Por muito elitista que tentem pintar a fachada da vossa personalidade, tudo desmorona quando constatamos algo tão simples como a escolha das bebidas: a selecção do Allo elucida-nos sobre a vossa tremenda precariedade enófila… e olvidar qual o tipo de Sovina de pressão que vos foi servida, torna a vossa ignorância tão patente que chega a dar pena.
Bem sei que vai eliminar/não publicar esta crítica frontal e construtiva, todavia, fica aqui o conselho para aprimorar o conhecimento antes de tentar publicar observações sobre degustações. Beber de nariz empinado é fácil… difícil e complexo é enfiar o nariz bem dentro do copo para assimilar as nuances sensoriais de cada experiência.
Estimada Sophia,
Tenho todo o prazer em publicar o seu comentário. Confesso que me dá algum gozo ler o seu insulto à minha pessoa assim como aos meus conhecimentos! Quanto ao pão se não o mencionei é porque estava correto, quanto ao vinho, lamento imenso pelos meus leitores que eu tenha tido a ousadia de escolher um vinho com uma ótima relação qualidade preço, leve, fresco e despretensioso de um produtor cujo trabalho muito estimo. (talvez seja pela precariedade enófila…)
Lamento também que as minhas degustações e os meus textos lhe causem tanta impressão, mas como sabe também não comecei ontem e nunca agradei a todos nem vou agradar. Não Gosta não lê, e assim ficamos felizes para sempre.
Obrigado,
João
Boa resposta, João!
“Despretensioso” é uma boa palavra, mesmo!!
Concordo com a crítica ao restaurante e à Sophia…
Atenciosamente,
Daniel, um gajo que bebe coca-cola…
Daniel,
Faz-se o que se pode… 😉
Um abraço,
João
Eu adorei cada garfada da minha francesinha no Brasão, cada batata…tudo estava perfeito, até uma mera cerveja de pressão 😉
A decoração, o atendimento e até o pão…fizeram o Brasão entrar no meu top no porto!
(Só nao vou lá mais porque #estaocansadosdedizerquenaohamesa) 😉
Olá Isabel,
Sem dúvida que vale muito a pena!
Beijinhos,
João
Também adorei a cervejaria, e também adorei este artigo! Tanto que fiquei cheia de vontade de lá voltar para experimentar mais pratos. Obrigada!
Olá,
Obrigado Mariana pelas palavras! E claro, boas provas.
Atentamente,
João