Alemão, crescido no campo junto à fronteira com a Bélgica, feito cozinheiro um pouco por todo mundo… este poderia muito bem ser um resumo da vida de Harald Bresselschmidt, que depois de uma bem sucedida passagem pelo Grande Roche Hotel em Paarl, decidiu instalar-se em Cape Town e abrir o seu Aubergine.
Corria o ano de 1996, quando Harald se instalou numa casa histórica do século XIX, para rapidamente começar a mudar o cenário gastronómico da cidade. Formado na cozinha francesa mais clássica, como é apanágio dos chefs da Europa Central, e inspirado pelos ingredientes Africanos e Asiáticos e as carnes de caça únicas da África do Sul, Harald criou um espaço muito próprio, onde o vinho (uma das suas grandes paixões) ganha um papel preponderante.
Mas passemos à nossa visita… Logo à entrada somos brindados com toda a simpatia pelo staff, algo que viria a repetir-se ao longo de todo o jantar, o ambiente, dividido entre diversas salas e um terraço para as noites mais quentes, é acolhedor e mais informal do que se espera habitualmente de um clássico restaurante de fine dining.
Já instalados, somos rapidamente convidados a conhecer o menu, enquanto nos explicam as diversas opções de degustação e os vários pratos da carta.
Escolhas feitas, somos brindados com diferentes pães, uma ótima manteiga de cogumelos e azeite.
Seguiu-se uma muito refrescante, Sopa de Pepino com Tofu e Sementes, que cumpriu lindamente com a obrigação de despertar o palato.
No copo começou-se, e bem, com um Ambeloui, Methode Cap Classique, feito na combinação clássica de Pinot Noir e Chardonnay e com 3 anos Sur Lies.
Espargos Brancos, Vieira, ovas de salmão e sashimi de truta de mar
Uma composição clássica, com a vieira num ponto irrepreensível, um bom “sashimi” da barriga e do lombo da truta, e em geral um bom contraste entre as notas de terra dos espargos com os sabores mais marítimos do prato.
Desafiados por Ralph Reynolds, o “apaixonado” Sommelier do restaurante, acompanhamos o prato com dois vinhos distintos, o Aubergine 2013, feito especialmente para a casa com Sauvignon Blanc e Semillon, um vinho muito interessante na boca, sem exuberâncias nem excesso de doçura com uma forte presença da fruta. E o Savage 2015, também ele feito com Sauvignon Blanc e Semillon, mas desta feita, resultando num vinho mais intenso, mais complexo, alcoólico e longo na boca, um grande vinho!
Lulas, tomate, risotto nero e açafrão
Apresentação mais uma vez algo datada, mas o arroz, as lulas e todos os elementos, criaram o melhor risotto que comi em muito tempo, e que desde então continuo sem comer melhor em restaurantes. Um belíssimo prato!
Para harmonizar Ralph propôs-nos TMW Mourvèdre 2016, que é como quem diz Tim Martin Wines, um vinho com o mínimo de intervenção, elegante, fino e preciso.
Gnu, favas, pancetta, pera glaceada e cogumelos com molho de berberis
Existe sempre uma primeira vez para tudo, e a carne de Gnu foi uma agradável surpresa! Mal passada, em jeito de rosbife, e muito bem ladeada pelos restantes ingredientes. Grande molho!
Avestruz, queijo azul, legumes, papel de parede e molho infusionado com alecrim
Excelente ponto de cocção da avestruz, bem ladeada pelos sabores dos legumes, cogumelos, as notas de queijo azul e o excelente molho com alecrim. Mais um prato com uma proteína pouco comum, que surpreendeu!
Dois pratos de caça, dois vinhos distintos, primeiro o Beaumont Pinotage 2015, provavelmente o melhor pinotage que já provei, bem equilibrado entre a fruta e a madeira, corpo médio e taninos bem integrados. Bebeu-se também o Migliarina Shiraz 2012, produzido em Stellenbosch, demonstrou características próprias da casta, alguma evolução ainda que com uma interessante intensidade e notas de especiaria que combinaram muito bem com o prato.
Duo de Huguenot e tartelete de Boland com tapenade de azeitonas e kumquats
Dois queijos produzidos na queijaria Sul Africana Dalewood, e os dois que mais os caracterizam, Boland, que resultou numa ótima tartelete, e o Huguenot em lascas finas. Um momento a que nunca consigo resistir, e do qual saí agradavelmente surpreendido pelos queijos produzidos na região. O Cabo não para de me surpreender…
No copo, Intellego Chenin Blanc 2012, a mostrar-se num belíssimo momento de prova, muito complexo e refinado. Um grande vinho, que ficou lindamente com os queijos!
Mocha Semifreddo, texturas de uvas, gelado de arroz tostado
Leve doce e equilibrado, com as uvas a fazerem um bom contraste com as notas mais intensas do mocha. Nota alta para o gelado de Arroz.
A acompanhar, o clássico, Signal Hill Straw Wine 2001, feito de uvas provenientes de vinhas muito velhas, segue o processo clássico deste estilo em Jura. Com uma doçura elevada, não lhe faltam notas de mel, baunilha, canela, especiarias e marmelo, conjugadas com muita complexidade.
Bola de Berlim de caramelo, fondant de chocolate com gelado de baunilha, mousse de morango, tartelete de chocolate e framboesa e semifreddo de menta e maçã
A sobremesa perfeita para quem não se consegue decidir por apenas uma – que é como quem diz, a Cíntia! Preparações clássicas, tecnicamente bem executadas e com bons sabores. Destaque para a tartelete de chocolate e framboesa e a bola de berlim de caramelo.
A harmonizar esteve um Noble Late Harvest 100% Chenin Blanc Joostenberg 2017, de doçura equilibrada, com notas de marmelada, alperce e mel, finalizadas com uma excelente acidez.
Tal como disse ao início, todo o serviço decorreu de forma exímia, desde o tempo entre pratos à simpatia da equipa e às suas explicações sobre os pratos. Uma das coisas que não posso deixar de destacar são os vinhos, o serviço e a qualidade da harmonização. O sommelier Ralph Reynolds explicou-nos que o chef é também um grande apaixonado por vinhos, e que muitas das vezes pensa primeiro no vinho que quer servir e depois cria o prato a partir daí, e isso verificou-se na qualidade da harmonização, surpreendente em muitos dos pratos!
Considerações Finais
O Aubergine é um dos históricos restaurantes da Cidade do Cabo, com Harald Bresselschmidt a desafiar o mercado há mais de 20 anos com as suas propostas de cozinha e atmosfera de fine dining, e a servir de abertura de portas para a boa revolução gastronómica que hoje se vive na cidade.
Os pratos de caça são memoráveis, assim como as combinações mais inusitadas de ingredientes. Mas o que surpreendeu mesmo foram as harmonizações vínicas, e a forma como comida e vinho se complementaram ao longo de todo o jantar.
Aqui estamos na casa certa para qualquer apaixonado por vinhos que visite a cidade!
Preço médio: 50€ sem vinhos
39 Barnet Street, Gardens – Cidade do Cabo
+27 021 465 0000
info@aubergine.co.za